quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Quase em 2011...

A imagem é do filme Holiday Inn, realizado em 1942 por Mark Sandrich.
O blog faz uso de Bing Crosby, Marjorie Reynolds, Virginia Dale e Fred Astaire, pois todos eles trazem votos de um Excelente Ano de 2011 para todos os nossos seguidores e amigos.
LG

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

De Lanzarote com Amizade

Caros amigos,
De Olhão chega-nos o realizador Miguel Gonçalves Mendes, que amanhã estará no Cine-Teatro António Pinheiro para apresentar o seu documentário José e Pilar, ao qual já nos referimos noutra entrada.
O blog sublinha a qualidade deste trabalho e recomenda a vossa presença: 5ª feira, 30 de Dezembro, 21:30h, na nossa sala de cinema.
Despedimo-nos até lá e deixamos a filmografia como realizador de Miguel Gonçalves Mendes.
LG
2002 - D. Nieves
2004 - Autografia
2005 - A Batalha dos Três Reis
2005 - Floripes - ou a Morte de um Mito
2007 - Floripes
2007 - Curso de Silêncio (co-realizado com Vera Mantero)
2007 - Silêncio
2008 - Segunda-feira
2008 - Zarco
2010 - José e Pilar

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Propósito de Boas Festas

O Natal de 2010 passou sem que o blog assinalasse a data festiva. As Festas continuam, segundo a tradição até ao próximo dia 6 de Janeiro, Dia de Reis.
Com estes singelos votos de Boas Festas segue uma imagem do filme It´s a Wonderful Life de Frank Capra, realizado em 1946. Filme natalício por excelência no país da Meca do Cinema, é também um dos melhores filmes de todos os tempos. Em Portugal recebeu o título Do Céu Caíu Uma Estrela. Mas, ao contrário de muitos casos de títulos mediocremente atribuídos, este faz todo o sentido, apesar de consistir numa frase totalmente diferente.
Porquê? Bem, para isso há que ver o filme com atenção.
O blog recomenda a sua descoberta - ou redescoberta - na primeira oportunidade.
Boas Festas e bons filmes.
LG

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Pilar de José

11 de Dezembro de 2010. A óbvia efeméride é o aniversário do decano do Cinema Português, o "Mestre", como muitos o chamam. Manoel de Oliveira cumpriu 102 primaveras e continua a trabalhar e a desmultiplicar-se em iniciativas de acordo com a sua agenda. Todos os que não gostam da sua obra, simplesmente odeiam-na e nunca viram nada depois do Aniki-Bóbó que data do longínquo 1942.
O blog dedicou a tarde-noite a homenagear outro fenómeno e embaixador da Cultura Portuguesa, infelizmente já desaparecido. Em José e Pilar Miguel Gonçalves Mendes olha de perto, não a vida privada do casal como Saramago temia vir a acontecer, mas sim a harmonia existente entre os dois, o ritmo de vida levado por quem não quer parar por não ter tempo para desperdiçar, a vida de duas pessoas que se entrosaram na vida como uma equipa perfeita.
O documentário, construído cronologicamente ao sabor da agenda de compromissos de José Saramago e Pilar del Rio tem, tal como a agenda, momentos de ritmo intenso que é compensado pelas pausas de respiração. Estas, a que José empresta os seus considerandos, logo são quebradas pela energia da grande figura do documentário. Se Saramago tende a ser o protagonista, a "actriz" principal é, sem dúvida nenhuma, Pilar del Rio. Miguel Gonçalves Mendes percebeu e sentiu isso mesmo. Nos "longos quatro anos" em que acompanhou o casal, notório é o pulsar de vontade intensa de produzir de uma mulher que "tanto tardou a chegar".
A Viagem do Elefante, penúltimo romance de Saramago, é também a viagem que fazemos na sala de cinema, é também a viagem de Gonçalves Mendes, é também a dura viagem do próprio Saramago que quase não o acabou e dedica - como todos - a Pilar, mas desta vez porque "não deixou que eu morresse".
Miguel Gonçalves Mendes está de parabéns. Foi à procura de um José e de uma Pilar que conseguiu encontrar. Encontrou a docilidade, a energia, o humor, a simpatia, a inteligência. E são estas as coisas que devemos todos ir ver em José e Pilar. Quem sabe, é talvez o meio de nos reconciliarmos com alguém que soube dizer coisas, que teve a coragem de as dizer, quando poucos eram os que conseguiam vê-las em nosso redor.
José Saramago, como Manoel de Oliveira, ou é amado ou é odiado. E os que o odeiam, nada leram, nada conhecem. Insultou a Igreja e abandonou Portugal, é tudo o que julgam saber. Falta lerem os seus livros. Falta conhecerem como são as coisas.
O Cinema - e neste caso o Vídeo - permite-o: Comecem por ver José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes.
Um abraço aos três.
LG

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Associativismo, a Música e o Aniversário

Na próxima quarta-feira, 1 de Dezembro, a efeméride é obviamente a Restauração da Independência de Portugal. Por aqui, no blog, somos mais pela Arte do que pelas vicissitudes da Política, seja qual for a época, a menos que as duas vertentes entrem em confronto, normal e infelizmente com tendência para a vitória da segunda.
Nós, que celebramos o Cinema em Tavira todas as quintas-feiras, temos porventura o dever moral de recordar que não estamos sozinhos no associativismo. Tavira é desde há muitas décadas, por iniciativa popular, oligárquica ou filantrópica, palco do nascimento e vida de muitas associações de variadas orientações e competências. A 7ª Arte, do ponto de vista associativo, tem o seu lugar consolidado em Tavira, sendo responsável por (e continua a ter o dever da) educação de públicos.
O blog regozija-se por estar visceralmente ligado ao Cineclube de Tavira, que tem a sorte e o privilégio (mas também o mérito) de programar em dois espaços distintos da cidade. O Cine-Teatro, que esperamos continuar a chamar-se António Pinheiro, tem o nome de um grande e fundamental associativista deste país. Ligado ao Teatro, bem entendido, António Pinheiro é responsável pelo lançamento das bases que permitem que hoje os artistas possam ser sindicalizados e acudidos na má sorte, velhice e incapacidade.
Quanto ao outro espaço, o chamado pátio do Convento do Carmo, não podia estar mais ligado à função social. A Cruz Vermelha dispensa apresentações. Mas a Banda Musical de Tavira – e é a ela que o blog dedica esta entrada – merece e deve ser também lembrada. Não só porque é das mais antigas instituições associativas de Tavira, mas também porque transporta consigo um peso e um papel social de considerável relevo.
Social, pois as pessoas ligadas à instituição vivem-na, respiram-na, a ela se dedicam, sem que disso dependa mais do que o “amor à camisola”. Social, pois as sucessivas saídas da Banda, por terras de todo o Concelho e não só, têm o mérito de acompanhar outros tantos eventos que se querem comemorativos, políticos, religiosos, desportivos, lúdicos, numa palavra, justamente, sociais. Social, pois a formação musical é desde sempre – e poderíamos recuar ao que Platão e Aristóteles nos sécs. VI e V a.C. disseram a esse respeito – tão fundamental como muitas vezes imperceptível na formação social, intelectual e humana dos jovens. Acreditem, eles gravitam intensamente em torno da instituição.
Perdoem-me os respeitosos consócios do Cineclube da nossa cidade. Mas há na Banda Musical de Tavira umas quantas lições a tomar para nós próprios e para a nossa jovem instituição de 11 anos de idade.
O blog vem a terreiro assinalar o aniversário da Banda Musical de Tavira que comemora, no próximo dia 1 de Dezembro, a bonita idade de 85 anos. É efeméride mais que suficiente para recordar, celebrar e felicitar os nossos vizinhos de Verão do Convento do Carmo, com os quais coabitamos paredes-meias durante as nossas Mostras de Cinema.
Infelizmente, o aniversário não se realizará da forma como foi pensada. O dia 1 é dedicado aos associados e praticantes, em ambiente de convívio e confraternização. A festa pública, e por motivos que são imprevistos e contrários ao desejo da Direcção, terá lugar no dia 12, Domingo, com o habitual Festival de Bandas na sua edição nº 26. O lugar será o mais indicado ao associativismo. O Cine-Teatro António Pinheiro, pois claro.
LG

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Fantasma de Polanski

Este fim-de-semana o cinema em Tavira prepara a chegada de um grande senhor. Roman Polanski visita o Cine-Teatro António Pinheiro no Domingo dia 28 de Novembro, espaço onde vamos ver o filme mais recente do cineasta polaco. The Ghost Writer é uma co-produção internacional, como é hábito na obra do realizador, e conta de que forma a biografia de um político britânico, a ser preparada, se consome no seio de uma polémica de política internacional que pode bem vir a ser uma grave crise.
Adivinha-se um paralelismo. Um político inglês autoriza a entrega à CIA de suspeitos de terrorismo, para que sejam submetidos a tortura. Mas fora do argumento, trata-se de um filme montado pelo próprio Polanski, durante o seu recente cativeiro na Suíça. De resto, não assistiu à estreia, mas a sua própria história, polémica quanto baste, dos seus erros até á prisão, está presente nas salas por onde passa The Ghost Writer.
Se quisermos ver nos assassinos da sua antiga companheira Sharon Tate os actos terroristas dos actuais tempos, não é preciso muita imaginação. Se quisermos ver nos erros de um político o desvio comportamental de Polanski, detido depois de muito tempo atrás ter abusado de uma menor, o esforço não será maior.
A própria origem de quem é Roman Polanski leva, porventura, a tecer considerações sobre não só The Ghost Writer, mas também sobre boa parte da sua obra, muitas vezes bizarra. Trata-se de uma criança que consegue fugir do ghetto de Varsóvia, sobrevivendo pelo campo e graças à guarida de várias famílias. Quando após a guerra consegue reencontrar o pai, já transporta consigo uma considerável rotina de idas ao cinema, acabando por fazer o curso na escola de Lodz.
De entre os seus primeiros filmes, as curtas Dois Homens e um Armário (com fama de ser o primeiro filme escolar do mundo a ser estreado em sala), Le Gros et le Maigre e Ssaki, revelam o seu gosto por relações que se revestem de bizarria e humor negro. Depois, a sua primeira longa-metragem entra na História como o primeiro filme polaco do Pós-Guerra a não se referir ao conflito: A Faca na Água.
Repulsa e O Beco levam-no a França e depois ao Reino Unido, e em 1968 chega a Hollywood. Mas o assassinato de Sharon Tate pela seita de Charles Manson e os acontecimentos que nesse episódio têm origem, afastam-no de um percurso convencional, tornando-o um dos realizadores mais internacionais. Tess, co-produção anglo-francesa e O Pianista, produzido entre a França, a Alemanha, o Reino Unido e a Polónia, são os seus filmes mais galardoados.
LG

Filmografia como realizador:
1955-Rower (filme amador)
1957-Usmiech Zebiczny (exercício escolar)
1957-Rozbijemy Zabawe (exercício escolar)
1957-Morderstwo (exercício escolar)
1958-Dwaj Ludzie z Szafa - Dois Homens e um Armário (filme escolar)
1959-Lampa (exercício escolar)
1959-Gdy Spadaja Anioly - Os Anjos Caem do Céu
1961-Le Gros et le Maigre
1962-Ssaki - Mamíferos
1962 -Nóz w Wodzie - A Faca na Água
1964-Les Plus Belles Escroqueries du Monde (sketch "La Rivière de Diamants")
1965-Repulsion - Repulsa
1966-Cul-de-Sac - O Beco
1967-The Fearless Vampire Killers or Pardon Me But Your Teeth Are in My Neck - Por Favor Não Me Mordam o Pescoço
1968-Rosemary's Baby - A Semente do Diabo
1971-Macbeth
1972-What?
1974-Chinatown
1976-Le Locataire - O Inquilino
1979-Tess
1986-Pirates - Piratas
1988-Frantic - Frenético
1992-Bitter Moon - Lua de Mel, Lua de Fel
1994-Death and the Maiden - A Noite da Vingança
1999-The Ninth Gate - A Nona Porta
2002-The Pianist - O Pianista
2007-Chacun son Cinéma (sketch "Cinéma Érotique")
2010-The Ghost Writer

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Cineclube na Estónia

Saudações! (depois do silêncio...)
O blog volta a dar sinal de vida depois de uma longa e involuntária pausa. A vida, essa, têm os nossos amigos e companheiros encontrado todas as quintas-feiras, portas-dentro do Cine-Teatro António Pinheiro, fruto da programação do Cineclube que, ao contrário do que o blog tem feito, trabalha ininterruptamente a exibição de 7ª Arte na nossa estimada Tavira. Mas apesar de tudo, continuamos por cá com vontade de acompanhar - quem sabe complementar - o que se vai passando pelo Cinema, por Tavira, ou pelos dois.
A notícia corre o risco de ser requentada. Porém, não será demais manifestar o nosso contentamento com o facto de termos o Cineclube como representante de Portugal no júri de um festival internacional de cinema. O certame tem lugar em Tallinn, cidade que pela 14ª vez acolhe o Festival Black Nights, de 24 de Novembro a 5 de Dezembro.
Ao André Viane, a caminho da Estónia, o blog deseja boa viagem, óptima estadia e um brilhante evento. Nós Por Cá Todos Bem (cantaria o Sérgio Godinho num filme do Fernando Lopes), pobres cinéfilos tavirenses, ansiosamente à espera das novidades que o André trará do Báltico. Em formato de bobine, claro.
Entretanto, e como diria a caricatura de um outro realizador, "always watch good moves".
LG

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

BBB em Concerto

É já nesta sexta-feira, 10 de Setembro, que o André Viane, aliás Boris Buggerov, sobe ao palco com a banda de tributo a Bob Dylan.
Boris Buggerov Band, que é completada actualmente por Pauo Machado, Johan Zachrisson e Luís Monteiro, actuam no interior do Quartel da Atalaia, em Tavira, concerto que se tem rodeado de grande expectativa e alguma admiração.
Não é todos os dias que há concertos na parada de um quartel militar, e neste aspecto tem que se dar os parabéns ao actual comando do regimento de Infantaria Nº1, que se mostra sensível e interessado pela vida cultural que Tavira vai respirando.
De Parabéns está também a Galeria Casa 5, responsável pela co-organização do concerto, bem como do programa Artalaia que promete mais coisas a acontecer em breve.
O blog vai estar no concerto e, se não falhar nada do que tem sido conversado com os responsáveis militares, em breve estarão aqui as imagens e os sons de que se fará o concerto de Boris Buggerov Band.
Até breve e bom cinema.
E boa música. Claro!
LG

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Fim de Festa 2010

É tempo de balanço da Mostra de Cinema Não Europeu de Tavira 2010. Enquanto escrevemos estas linhas, desmonta-se a festa no carismático local do Convento do Carmo, onde neste mês de Agosto se assistiram a 11 filmes representativos da cinematografia mundial com estreia efectuada em Portugal. Exclui-se, é claro, o Velho Continente que, à semelhança dos dez anos anteriores, teve palco exclusivo.
Apesar de ter tido uma assistência inferior à congénere europeia, a Mostra de Agosto contou com um público entusiasta que viu coincidir alguns "trunfos" da programação com outras programações estivais do Município. As caras mais conhecidas não faltaram de forma nenhuma. Quanto ao Município, a sua ausência foi total e totalmente pesarosa para a organização que faz destes eventos, com a teimosia que lhe é reconhecida, o mais importante e significativo evento cultural do chamado "Verão em Tavira".
Quem não arredou pé foi a equipa que se junta ano após ano ao tavirense de Gent. O André Viane anda satisfeito com a equipa que nos últimos anos tem acompanhado o Cineclube (o que muito nos apraz, digamos de passagem com um pedido de desculpas pela vaidade do aparte).
Um grupo que equipou de cor-de-rosa em 2010, que contou com novas e notórias aquisições, que discutiu cinema, que brincou, que riu, que bebeu e comeu, que conviveu e que aprendeu um pouco mais sobre a Sétima Arte. Uma Mostra que contou com muitos cinéfilos de palmo e meio, que contou com algumas surpresas cine-videográficas, que promoveu reencontros de amigos antigos e há muito afastados. Onde se cantaram parabéns com bolo e caipirinhas, com pipocas e cerveja, com aguardente de figo, brownies e as melhores sandes de frango do mundo, e onde até houve confissões. Mas quanto a estas, parece que é segredo. Pelo menos por enquanto...
A festa continua ano fora, todas as 5ªs feiras no Cine-Teatro António Pinheiro.
Bom Cinema!
LG

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Não Europeu, Mostra Nº 6

A 11ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira saldou-se com o bonito número de 1276 espectadores, bom ambiente, boa disposição e algumas gargalhadas, ora pelo que se passava na tela, ora porque a equipa executiva do evento se faz de gente animada e bem disposta. Assim, não se deve acreditar na atitude de meninos mais ou menos bem comportados que a fotografia exibe, pois as lentes podem (podem realmente) intimidar muito boa gente.
Na próxima 6ª feira, 6 de Agosto, é tempo de reunir para dar início à 6ª Mostra de Cinema Não Europeu de Tavira, no mesmo e fantástico local do páteo do Convento do Carmo. Mas por favor, que ninguém se assuste: 6ª feira, 6ª Mostra, dia 6. Não se trata de nenhum programa diabólico, até porque o lugar já foi sagrado, e agora é consagrado ao cinema de qualidade.
A abrir o evento, Jason Reitman e George Clooney esperam por todos, numa história que fala tanto de sentimentos como das mudanças que os mesmos podem operar na vida e no interior de cada um de nós.
Fica aqui o programa completo: http://cineclube-tavira.com/site/index.php?option=com_content&task=view&id=23&Itemid=1
Bom Cinema!
LG


sábado, 17 de julho de 2010

Mostra 11, o Arranque


Ontem, 6ª feira e depois de um dia intenso de sol e de trabalho, arrancou a 11ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira, com o ambiente e o cinema com a qualidade que quem já experimentou bem conhece.

The Boat That Rocked demonstrou, sem que seja um trabalho de realização transcendente, a importância da música, da rádio como companhia e como trabalho, da boa disposição e "good vibs" na vida das pessoas, mesmo que seja através de ondas cartzianas.

A abrir, o resultado de vários anos de gravações video em torno das Mostras e sobretudo em torno dos dias / noites de abertura. Felizmente, este trabalho passou no teste da organização, da equipa de colaboradores e, muito sobretudo, do público.

Antes de irem espreitar este video que aqui fica on-line, tomem nota de que esperamos por todos para a sessão de hoje. An Education, Lone Scherfig, 2009, debruça-se sobre o dilema dos rumos a seguir. De uma entre tantas encruzilhadas que esta estrada da vida nos pode colocar. Seguir os instintos de absorção de conhecimentos e de pensamento, provável proveito de uma vida de estudos e de quem tem idade para imaginar que pode e deve mudar o mundo? Ou a opção pela via da garantia de segurança pacífica e protectora de um amor mais velho, que pode vir a revelar-se a razão de se existir e o garante de uma felicidade para a vida?

Mais logo, pelas 21:30h, encontraremos as respostas da jovem Jenny (Carey Mulligan). O local? Claustros do Convento do Carmo, onde o cinema é servido com cheiro e sabor a Verão e a Bom Ambiente.

LG

terça-feira, 13 de julho de 2010

A Crise e a Cultura III: A Solidariedade de Gabi

São desta manhã as notícias que dão conta de um eventual recuo, por parte do Governo, relativamente aos cortes orçamentais para o sector cultural.
Segundo o site do semanário Sol, Gabriela Canavilhas reconheceu a vitalidade do sector cultural que se uniu em defesa dos seus interesses. No entanto, sublinha que a anulação dos cortes acontece graças a uma posição de solidariedade por parte de todo o Governo, Sócrates e Teixeira dos Santos inclusos. É desta forma que a Cultura se salva, cujos cortes, diz Canavilhas, "estava-me a custar horrores".
Fica por definir se tais horrores seriam causados pela subtracção subsidiária enquanto ministra, ou se, como pianista, ter a perspectiva de vir a tocar piano com menos 10% de teclas, como sugeriu o produtor Paulo Branco a semana passada aos microfones da TSF.
De qualquer forma, do horror à solidariedade, o Governo revela-se um "fixe" face às posições assumidas pelas plataformas de artes com cujos representantes a ministra reuniu ontem. No fim da reunião, Canavilhas fez então o seu bonito na declaração:
"Informo que já não é preciso proceder às reduções e aos cortes no sector cultural, numa medida articulada com o Governo."
Estavam em causa cortes percentuais entre os 10 e os 12,5, a aplicar a organismos cujo Ministério teve, em 2010, a "enorme" fatia do Orçamento Geral do Estado de 0,3%...
Agora, que "tout est bien quand finit bien", fica a pergunta: Quem pagará a solidariedade governamental?...
LG

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Crise e a Cultura II: O Realizador e o Abafador

Com os cortes anunciados para financiamento das industrias culturais deste pobre país, os profissionais do sector procuram fazer ver ao Governo que a produção cultural é, e neste caso a produção de cinema, dos produtos mais exportados por este pobre e pequeno canto da Europa, da União Europeia, do Mundo.
No jornal Público do último dia 9 de Julho, o decano dos cineastas portugueses veio a terreiro em defesa da classe, publicando uma carta aberta à Ministra da Cultura. No texto Defesa do Cinema Português, Manoel de Oliveira demonstra como o financiamento de filmes é vantajoso para o país e as suas pobres finanças (com letra pequena, perdoe-nos o titular da pasta).
O abafador, sinistra personagem que nas aldeias se encarregava de poupar os moribundos a maiores agonias, vem agora ser recordado a propósito da administração da Zon/Lusomundo, que "esconde os nossos filmes", que os guarda, que não os mostra nem deixa mostrar. A empresa é detentora dos direitos de exploração de significativa parte do cinema português, e nada faz para promover os filmes. Não os edita, não os exibe, não os divulga na sua rede de televisão por cabo, não nada. Apenas abafa.
Deste modo, é na administração da Zon/Lusomundo e dos seus salários - entre outros, "à parte" nosso - que o prejuízo com Cinema se faz neste país.
Não é prejuízo querer fazer cinema e com isso promover culturalmente um país.
Não é com o único laboratório de cinema em Portugal, que vive sob o fantasma do encerramento definitivo, que se tem prejuízo.
Não é prejuízo dar meios a quem tem competências para a salvaguarda do património cinematográfico português; e que por acaso também tem por missão a sua divulgação, por mais criticada que possa ser.
Mas o melhor é dar uma vista de olhos ao texto de Manoel de Oliveira. No filme Sound of Music de Robert Wise, 1965, cantava-se "I am sixteen / Going on seventeen", com um futuro sorridente como perspectiva. Oliveira escreve com a elegância dos seus 101 anos, going on 102. And counting, and thinking, and making films, and exporting them, and promoting the portuguese culture, and colecting international prizes...
LG

Defesa do Cinema Português

Por Manoel de Oliveira

Senhora ministra, peço-lhe que pense bem nos problemas que estamos a viver, de modo a encontrar soluções eficazes e justas.
Em defesa dos realizadores e dos produtores de filmes portugueses neste difícil momento por que estão a passar, em defesa desta boa causa, tenho a dizer o seguinte:
Os filmes portugueses nunca foram ruinosos para o país e os seus custos cremos serem os mais baixos em relação à maior parte dos países. É certo que o momento é de crise, mas o cinema português está longe de ser motivo de ruína para o país e exactamente pelo seguinte:
Cada um dos nossos filmes move um grupo de actores, outros tantos figurantes e uma equipa técnica completa.
Este conjunto de contratados mexe com transportes, com restaurantes, com hotéis, etc., etc. E toda esta gente, com aquilo que ganha, faz as mais variadas compras com esses pequenos ganhos do seu trabalho, e isto, para além dos gastos que as próprias filmagens são obrigadas a fazer para produzir cada um dos seus filmes.
Mais: todos, seja dentro ou fora do filme, pagam impostos e esses impostos, feitas as contas, serão montantes aproximados, se não iguais ou até superiores, ao subsídio que o Ministério da Cultura dá para cada um desses filmes. O que quer dizer que o Estado vem a cobrir ou até a receber mais do que os subsídios que atribui a cada filme.
E quero dizer ainda:
Depois os filmes passam a ser exibidos no país, e quantas vezes vendidos para diferentes outros países, alguns dos meus filmes já passaram por esse mundo fora, em cerca de 27 países, bem como acontecerá com outros colegas, dando a conhecer as nossas expressões cinematográficas e culturais, uma vez que o cinema figura como uma síntese de todas as artes; para além de representar um reforço nos lucros dos produtores, lucros esses favoráveis ao país, como acontece com os livros, com a pintura ou com a música.
Assim como as televisões nacionais mostram aos seus países o essencial do que se passa no mundo, o cinema nacional divulga a cultura de cada país ao mundo.
Nunca senti ser um "peso" para os governos do meu país. Limito-me a fazer o meu trabalho o melhor que sei e posso para o que sinto ter nascido, tentando questionar os seres, as coisas, a nossa história e o mundo através dos filmes que tive o privilégio de realizar. No tempo da ditadura, fui fazer um curso de fotografia em Leverkusen, oferecido pela Bayer, nos seus estúdios da Agfa. A seguir, fui para Munique, onde comprei na Arnold Richter uma câmara de filmar. Montei numa carrinha tudo o necessário de imagem e som para filmar em qualquer lugar e fiz o primeiro filme a cores revelado pela Tobis Portuguesa: O Pintor e a Cidade que ganhou o meu primeiro prémio no Festival de Cork, a Harpa de Prata. E a seguir filmei sozinho mais quatro filmes, incluído o Acto da Primavera, o único para o qual recebera uma ajuda do SNI, por se tratar de um filme religioso e para o qual tive como meu assistente o malogrado António Reis.
Senhora ministra, peço-lhe que pense bem nos verdadeiros problemas que estamos a viver, de modo a encontrar soluções eficazes e justas. Não pergunte quanto ganha um cineasta que por vezes trabalha durante dois anos debruçado repetidas vezes sobre o arranjo do seu guião para o ajustar ao seu reduzido custo de produção, como fora o caso de alguns filmes e em particular do Estranho Caso de Angélica. Nós, realizadores, não temos direito a qualquer reforma. Cada realizador ganha o seu salário só quando filma, sem garantia nenhuma de continuidade. Não pergunte quanto ganha um actor ou um bailarino. Calculo que sabe que não é muito e que a sua derradeira glória poderá vir a ser a de morrer pobre. Pergunte sim, por exemplo, quanto aufere o administrador da Lusomundo/Zon, o abafador, aquele que esconde os nossos filmes, e que não responde mais depois de se assegurar com um contrato, e que não responde nem a nós nem a quem quer ver e mostrar os filmes portugueses.
Neste momento difícil, penso sobretudo nos meus colegas realizadores mais jovens. Para eles, estes cortes são profundamente injustos. E penso que, como eu, eles não podem viver sem uma Cinemateca Nacional forte que possa mostrar, hoje e todos os dias, o que é a história do cinema. Não podem viver sem um laboratório de imagem e de som, como o da Tobis, onde há mais de setenta anos faço os meus filmes. Eles precisam de uma lei do cinema que efectivamente proteja o cinema português. E precisam de ser ouvidos para isso. Eles, como eu, sempre viveram na precariedade e na insegurança, sem reforma nem subsídio de desemprego, e sem nunca sabermos se não estaremos a fazer o nosso último filme. Eles, como eu, só temos um desejo: todos ambicionamos morrer a fazer filmes.

Realizador


A Crise e a Cultura I: o Manifesto

A Plataforma Geral da Cultura elaborou um manifesto contra o Governo do Estado, o qual ameaça aplicar severos cortes a um sector eternamente castigado com magras somas de apoio estatal. Reunida a 5 de Julho no Teatro Maria Matos, concebeu o texto que tem com primeiros destinatários o Primeiro-Ministro, a Ministra da Cultura e o Ministro das Finanças. A primeira forma de luta é uma petição pública, a qual devemos TODOS subscrever, e que está disponível em http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=DL72A.
Por mais fantoches que sejamos, ainda temos a liberdade de gritar: Acção!!
Transcrevemos o Manifesto, cuja leitura recomendamos.
LG
Para:Primeiro-Ministro; Ministra da Cultura; Ministro das Finanças

O sector da Cultura – as actividades culturais e a criação artística em geral – tem vindo a sofrer ao longo dos últimos dez anos, um sistemático desinvestimento por parte do Estado Português. A situação atingiu uma tal degradação, que o próprio Primeiro-Ministro o reconheceu na última campanha eleitoral, comprometendo-se a que na actual legislatura o sector da Cultura seria prioritário e veria o investimento do Estado consideravelmente aumentado: é isso que diz o Programa do Governo. E no entanto, desde o passado dia 18 de Junho, com a publicação do Decreto-Lei nº 72-A/2010 e as medidas que aí são impostas ao Ministério da Cultura - uma cativação geral de 20% e a retenção de 10% nos contratos celebrados e a celebrar - a situação abeira-se da catástrofe. Por isso queremos hoje e aqui reafirmar: 1. Estamos conscientes da crise que o país atravessa, mas há dez anos que o sector da Cultura vive com sucessivos cortes orçamentais, com verbas cada vez mais reduzidas: para a Cultura, a austeridade não está a começar agora, começou há já muitos anos. 2. Os profissionais das actividades culturais e artísticas há muito que fazem sacrifícios para manter a sua actividade e a sua profissão: trabalham com orçamentos cada vez mais escassos, trabalham com contrapartidas cada vez mais reduzidas. 3. Ao contrário do que diz a Senhora Ministra da Cultura, são os próprios profissionais e criadores, que vivem nesta situação, que em larga medida financiam eles próprios a actividade cultural em Portugal. 4. A criação cultural contemporânea portuguesa é uma das actividades que mais projecção internacional tem dado ao país. E internamente, como foi reconhecido num estudo independente, as indústrias culturais têm um peso cada vez mais significativo na economia portuguesa. 5. Os cortes que o Governo agora pretende fazer terão consequências dramáticas para os projectos actualmente em curso, com a sua paralisação e consequente fecho de empresas, estruturas, desemprego entre os trabalhadores sem protecção social, desencorajamento entre os criadores. 6. A falta de comunicação e de informação clara por parte do Ministério da Cultura e das suas Direcções-Gerais sobre a situação agora criada gerou um clima de inquietação e insegurança absolutamente inaceitável. Por isso não podemos hoje deixar de exigir: 1. A revogação imediata do artigo 49º do Decreto-Lei nº 72-A/2010, e da cativação de 20% das verbas do Ministério da Cultura, para a qual é suficiente a vontade política do Primeiro-Ministro. 2. Com a consequente revogação da redução em 10% sobre os contratos em curso ou a realizar durante o corrente ano, bem como do orçamento de Direcções-Gerais e Institutos do Ministério da Cultura directamente relacionados com os apoios à criação. 3. Mas exigimos sobretudo que o Estado Português assuma de forma clara o Direito à Cultura e o investimento na Cultura e nas Artes. 4. E que os profissionais da Cultura sejam encarados e tratados com o respeito que o seu trabalho merece, que se acabe de uma vez por todas com o discurso dos subsídio-dependentes, que se respeitem os criadores e os artistas portugueses.
Ada Pereira - PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas
Luís Urbano - Plataforma do Cinema
Pedro Borges - Plataforma do Cinema
Rui Horta - REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea
Tiago Rodrigues - Plataforma do Teatro Os signatários

O Cineclube e a Laranja

Escrever sobre Stanley Kubrick não é tarefa fácil. Um homem anti-mediático, trabalhador compulsivo, minucioso, um realizador de génio. No entanto, o apontar destas características reflecte, talvez, aquela que define todas as outras: Kubrick era um brilhante jogador de xadrez. Ora, um jogador de xadrez deve saber analisar, antever, agir, de maneira a ter a global visão do jogo a que se dedica. E isto era o que fazia Kubrick em relação aos seus filmes de forma singular.
Para cada novo projecto, longamente amadurecido no recolhimento do seu solar na Inglaterra, Stanley Kubrick procurava novos desafios técnicos que, ao invés de se sobreporem ao tema que importa abordar, como largas vezes acontece, o resultado era o de exponenciar as potencialidades desse tema. É o caso dos efeitos visuais de vanguarda em 2001: A Space Odissey, 1968. Em 1975 utilizou lentes e câmaras modificadas de forma a poder filmar apenas com luz de velas, transmitindo o real ambiente dos salões oitocentistas, no filme Barry Lyndon. Em 1980, a rodagem de Shining foi o "laboratório" de utilização da steadicam, aparelho que permite rápidos movimentos de câmara sem trepidações indesejáveis.
Cedo se tornara fotógrafo da revista Life, ao tirar uma fotografia histórica que lhe valera a profissão: A mágoa de um vendedor de jornais que anunciava a morte do presidente Roosevelt. Na Life, cobre reportagens que são ponto de partida para temas dos seus primeiros filmes, actividade que abraça de forma definitiva pouco tempo depois. Assim, surgem as curtas-metragens Day of the Fight, 1951, The Flying Padre, 1951 e The Seafarers, 1952.
Em 1953 realiza Fear and Desire, primeira longa-metragem, cuja autoria renuncia anos depois. O filme Killer's Kiss, 1955, revela a sua habilidade de manipulação da luz em imagens em movimento, catapultando-o para projectos mais ambiciosos.
The Killing, 1956, leva o realizador para Hollywood, virando para ele os holofotes da notoriedade que o acompanhariam sempre. Todos os novos filmes de Stanley Kubrick eram agora envoltos em grande expectativa.
A justiça e a fraternidade são os temas de Paths of Glory, 1957, filme de guerra em que trabalha com Kirk Douglas, facto que lhe abriria as portas da realização de Spartacus, 1960, produzido e protagonizado por aquele actor.
Lolita, 1962, e Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964, são filmes que lidam com o universo obsessivo masculino, com os impulsos do amor e da guerra, como se se tratasse de um díptico em que "Eros" e "Thanatos" se encontram com a masculinidade; em James Mason obcecado com Lolita e Sterling Hayden com o armamento e o seu uso.
Kubrick explora sempre facetas humanas complexas. No auge da sua carreira, os filmes 2001: A Space Odissey, 1968, e A Clockwork Orange, 1971, reflectem essa tendência. No primeiro, o estabelecimento de contacto com formas de vida extraterrestre é levado a limites que podem ser, afinal, o contacto com o ser interior em cada um de nós. No segundo, a violência está no limite entre o ser individual e a sociedade, manipulando a assistência que passa do ódio à estima pelo protagonista Alexander DeLarge.
Ao exuberante e maravilhoso filme de época que é Barry Lyndon, 1975, e a história da ascensão social do seu protagonista, segue-se a incursão de Kubrick no território do terror e do fantasmagórico. Uma vez mais, os perturbantes acontecimentos que têm lugar no hotel, podem bem ter lugar na mente de um Jack Nicholson que tem neste filme - Shining, 1980 - um dos seus melhores desempenhos.
Full Metal Jacket, 1987, constitúi uma abordagem à Guerra do Vietname, ponto comum entre muitos realizadores norte-americanos. Kubrick procura demonstrar de que forma o treino militar de um combatente pode influir na sua vida, na sua mente, na sua reflexão sobre o terror da guerra.
Quando Eyes Wide Shut, 1999, estreou já o seu realizador não era vivo. A intensidade com que aborda neste filme a vida conjugal e a problemática da confiança, da fidelidade, da traição, levaria ao divórcio do par protagonista, casados na realidade. Nicole Kidman e Tom Cruise dão corpo (e alma) a uma obra controversa, com problemas de classificação etária, com arrojadas cenas de orgias, aflorando também o abuso de menores, o crime sangrento, o consumo de drogas, ou o envolvimento de figuras públicas em escândalos abafados.
O jogador de xadrez fazia, em última análise, aquilo que fazem os melhores realizadores de cinema: uma boa capacidade de observação, assimilação e devolução ao público dos factos. Ao público cabe, por fim, a observação da forma como as ideias de um cineasta lhe chega, para sua maior riqueza. Quem ousará dizer que, quando o Cineclube exibiu A Clockwork Orange (A Laranja Mecânica), não provocou um "boom" de riqueza cinematográfica em muitos espectadores?
Aconteceu isso em 2005, em plena Mostra de Cinema Europeu. Contámos com a presença de um amigo, o Filipe Lopes, crítico de cinema, multi-espectador deste filme e profundo admirador de Stanley Kubrick. Fica um excerto do evento.
LG


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Mostra.11

É já neste mês de Julho que vamos poder contar com a edição nº 11 da Mostra de Cinema de Tavira, que terá lugar de dia 16 a dia 25. O programa que o Cineclube propõe, face aos condicionalismos existentes que se prendem com o facto de termos sempre de nos recorrer do que as distribuidoras têm em carteira, parece-nos de qualidade elevada, no âmbito do cinema produzido no Velho Continente no ano que decorreu desde a edição nº 10.
A abrir, o filme The Boat That Rocked de Richard Curtis, que fala de rock e do fenómeno das rádios piratas que, em Portugal, teria lugar 20 anos mais tarde, em 1986/87. Oportunidade para ver ou rever o brilhantismo e a exuberância de Philip Seymour Hoffman e Bill Nighy
Fica a nota que talvez abra o apetite para essa noite e para a Mostra (que surpresas haverá?) juntamente com a imagem que acompanha o evento e que, na nossa opinião, é um dos melhores cartazes de todas as 11 edições.
Dia 16, todos ao cinema. Mas atenção! A festa faz-se ao ar livre, mais concretamente na carismática casa das Mostras: o claustro do Convento do Carmo.
Um grande ambiente espera por todos.
LG

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Homenagem

O dia de hoje, 18 de Junho de 2010, passará à História como o dia do desaparecimento do maior vulto da Literatura Portuguesa da 2ª metade do século XX e início do século XXI. José Saramago, 87 anos, faleceu hoje, deixando uma vasta e muito importante obra literária, resultado da sua observação e reflexão sobre o estado do mundo e do país.
Depois do romance da juventude (Terra do Pecado), de muitas crónicas e contos, de poesia, de muitos artigos de opinião, Saramago escreveria, já na casa dos 50, Manual de Pintura e Caligrafia, logo seguido de Levantado do Chão, livro que manifesta a sua forma de escrever que poucos apreciam sem nunca terem lido. É este romance, sobre a luta diária de trabalhadores alentejanos em latifúndios, aquele que marca o início do seu estilo literário tão estimado por uns como odiado por outros.
Memorial do Convento faz de José Saramago um caso sério da literatura aquém e além fronteiras, seguido de O Ano da Morte de Ricardo Reis, Jangada de Pedra e História do Cerco de Lisboa.
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, envolto em grande polémica, é alvo de "censura" do próprio Governo, impedindo-o de concorrer a prémios e levando ao seu auto-exílio na ilha de Lanzarote; seguindo-se Ensaio Sobre a Cegueira, o melhor romance do escritor na nossa opinião, e Todos os Nomes. É a seguir a este último que Saramago ganha o Prémio Nobel de Literatura, chamando a atenção do público português sobre o mais traduzido autor entre nós nascido.
A lista de romances - estamos concentrados nos romances - termina com os títulos A Caverna, O Homem Duplicado, Ensaio Sobre a Lucidez, As Intermitências da Morte, A Viagem do Elefante e Caim.
De modestas raízes, nunca as pôs de parte, sobretudo à figura do avô, analfabeto e "o homem mais sábio que conheci". A estas raízes soube conjugar as suas ideias sobre a sociedade que observava, manifestando-as através de uma escrita apaixonante, fascinante, envolvente. Escrevia retratos intensos, formados por uma força de escrita dificilmente inigualável, fruto, de resto, das suas fortes influências no Realismo Fantástico que podemos encontrar em vários e consagrados autores latino-americanos.
Ao cinema - e porque aqui tratamos essencialmente de cinema - foram adaptados o poema Objecto Quase, A Jangada de Pedra, Ensaio Sobre a Cegueira e A Maior Flor do Mundo, este um conto passado a animação.
Ao escritor, ao homem, ao ser humano, um abraço onde quer que esteja.
LG


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Portugal dos Pequeninos

Toda a gente conhece, pelo menos de nome, o famoso parque em Coimbra onde é possível passear por entre miniaturas de edifícios marcantes da História e arquitectura em Portugal.
O nome do parque vem a propósito da chamada de atenção para o filme de João Canijo Fantasia Lusitana, que abriu o último Festival Indie Lisboa. Canijo procura dar a conhecer como era este belo país neutro durante a 2ª Guerra Mundial, gloriosamente celebrado num periodo em que se festejavam as gloriosas festas do Duplo Centenário, promovidas pelo Estado Novo salazarista.
Um país a brincar, marcado por um ditadura, mas por onde passaram inúmeras individualidades de destaque de variadíssimas áreas, não por causa das festas, mas porque em Portugal, esse parque de diversões, não havia guerra.
João Canijo recorre a um muito significativo conjunto de imagens de arquivo para mostrar, a esta distância, como eram as coisas e, ao mesmo tempo, recorre ao testemunho de pessoas que por aqui passaram, como a filha de Thomas Mann ou Antoine de Saint-Exupéry. Inesperadamente cosmopolita, Portugal era sobretudo um país fechado sobre si próprio, e em que um punhado de pessoas brincavam às Nações.
E para a brincadeira, as edificações levantavam-se e as pessoas apareciam em "espontâneas" manifestações de apreço, enquanto boa parte da brincadeira era registada em película, para que quem não participasse a pudesse testemunhar depois. Para mostrar como eramos "grandes" e "gloriosos", mestres da fantasia. Lusitana, claro.
Enquanto Fantasia Lusitana não chega ao nosso Cineclube, na 6ª feira à noite, fica o trailer para as primeiras impressões.
LG

Portugal Limpo

Todos já ouviram falar, e alguns terão participado, na iniciativa conhecida por Dia L. L de Limpar Portugal, dia do passado recente em que Portugal se levantou cedo para acudir às acumulações de lixo que assolam o nosso jardim à beira-mar plantado.
Pois esse dia não passou. Não, ele deixou marcas, projectos, iniciativas. E uma dessas iniciativas é o concurso de video que, em vários escalões, se subordinam ao tema da limpeza do país.
O concurso Como Manter Portugal Limpo convida alunos de todos os escalões a realizar trabalhos em video subordinados ao tema que, ao mesmo tempo, é um desafio: a manutenção da limpeza em Portugal. E se no escalão que vai até ao 8º ano, o 1º prémio é um dia de actividades em parques como o Biológico de Gaia e o Monte Selvagem em Montemor-o-Novo, o que já não é de desdenhar, o que dizer então dos outros escalões?
Do 9º ao 12º ano, os jovens arriscam-se a ir a uma conferência na Indonésia... Quanto aos universitários, o programa ecológico na Malásia não é, de todo, de deitar fora, nem mesmo de reciclar.
Por isso, caros alunos e alunas de Tavira e do país, mãos à obra e criatividade no olhar das lentes!
Atenção, que os prazos desafiam à destreza e desembaraço!!
Mais informações em http://www.aspea.org/.
LG

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Cinema Português 6: Manuel Guimarães

Quando Manuel Guimarães se estreou na realização de longas-metragens em 1951, com o filme Saltimbancos, já tinha atrás de si um rasto de notoriedade.
Realizara dois anos antes a curta-metragem O Desterrado - Vida e Obra de Soares dos Reis, e tinha sido assistente, durante a década de 4o, de nomes como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto, Arthur Duarte, João Moreira e Armando de Miranda. A sua formação em Pintura e Decoração na Escola de Belas-Artes do Porto valeu-lhe várias exposições, enquanto colaborava em jornais e revistas como publicista e ilustrador.
O olhar do artista plástico está ao serviço do seu cinema, tanto nos "quadros" de grande plasticidade que realizou em O Crime de Aldeia Velha e em O Trigo e o Joio; como no retrato portuense que constitúi A Costureirinha da Sé, filmado a cores e em que os tons de pastel reconfiguram na tela as tonalidades de uma cidade de pedra escurecida e luz tímida.
É o único cineasta português que se aproximou, de facto, do Neorealismo. Não só isto é verdade pelas características de tais produções, de baixo orçamento, e em que os exteriores surgem como cenário principal privilegiado, como é também verdade pelas temáticas abordadas. A luta diária, as vidas difíceis, o desalento e a resignação, estão presentes nestes filmes, não obstante partirem de textos de autores próximos daquela corrente estética, como Leão Penedo, Alves Redol, Fernando Namora e Vergílio Ferreira. Concluíu o filme Cântico Final em 1975, ano em que viria a falecer e que, acaba por ser não autobiográfico, mas a história de alguém que vê a morte aproximar-se e que procura tranquilizar a consciência e o espírito.
Manuel Guimarães encabeça a transição entre a velha tradição do cinema português e o Cinema Novo, com o qual podem ser conotados algumas das suas obras, O Crime de Aldeia Velha à cabeça.
LG

Filmografia (curtas-metragens):
1949 - O Desterrado - Vida e Obra de Soares dos Reis
1956 - As Corridas Internacionais do Porto
1956 - O Porto é Campeão!
1961 - Barcelos
1961 - Porto - Capital do Trabalho
1961 - Vinhos Bi-Seculares
1967 - Artes Gráficas
1967 - O Ensino das Belas-Artes
1967 - O Porto, Escola de Artistas
1967 - Tapetes de Viana do Castelo
1968 - O Ritmo na Vida
1968 - Tráfego e Estiva (primeiro filme português em 70mm)
1969 - António Duarte
1969 - Expressos "Lisboa-Madrid"
1969 - Fernando Namora
1969 - Resende
1971 - Carta a Mestre Dórdio Gomes
1972 - Areia Mar - Mar Areia

Filmografia (longas-metragens):
1951 - Saltimbancos
1952 - Nazaré
1956 - Vidas Sem Rumo
1958 - A Costureirinha da Sé
1964 - O Crime de Aldeia Velha
1965 - O Trigo e o Joio
1972 - Lotação Esgotada
1975 - Cântico Final


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Mudar de Vida

Não. Não falaremos do filme Mudar de Vida de Paulo Rocha. Mas a mudança de hábitos de uma vida inteira é o tema do filme programado para hoje pelo Cineclube de Tavira.
Realizado pelo norueguês Bent Hamer, o filme O'Horten (A Nova Vida de O'Horten) fala-nos do fim de uma carreira como maquinista de um homem que, no último dia de trabalho, se vê envolvido em imprevistos e atribulados acontecimentos que contrastam com a história da sua vida laboral.
Como nos habituarmos a uma vida sem o referencial do trabalho diário, é o tema sobre o qual o filme procura relectir. É inevitável a comparação com o norte-americano About Schmidt (Sobre Schmidt) de Alexander Payne, que proporcionou em 2002 um extraordinário desempenho - mais um - a Jack Nicholson, que reformado e viúvo, vê a sua vida em estado de ruptura e a precisar de mudanças.
Para os mais atentos a cinematografias menos óbvias, lançamos o desafio de o comparar a T'am E Guilass (O Sabor da Cereja) realizado em 1997 pelo iraniano Abbas Kiarostami. Neste filme, o protagonista empreende uma viagem (também) interior aos fantasmas mal resolvidos, processo catártico antes da viragem da sua vida - a morte.
E, falando um pouco de cinema português, o realizador Manuel Guimarães abordara o tema em Cântico Final de 1975, onde Ruy de Carvalho desempenha o papel de um professor de liceu que, condenado por um cancro, regressa à aldeia-natal para se confrontar com memórias passadas. Seria o último trabalho deste realizador, o único que em Portugal se aproximou de facto dos predicados primordiais do Neorealismo.
Enquanto não chega ao mercado DVD - existe uma edição velhinha em VHS - lancemos um olhar e reflictamos sobre o caso do sr. O'Horten norueguês. Podemos depois, compará-lo com o americano Schmidt. Esta noite, no nosso Cineclube.
LG

A Cidade, O Campo, O Museu

Em Tavira, no próximo Sábado dia 29 de Maio, será inaugurada a exposição Cidade e Mundos Rurais.
A ideia é proporcionar uma visão sobre o legado agrícola da região, e para a qual a exposição exibe peças (hoje) museológicas, de um tempo em que a agricultura estava na base da sobrevivência de grande parte da população.
Para ajudar à abordagem de um tempo desaparecido, o Museu Municipal de Tavira conta com o precioso auxílio de fotografias, multimédia e excertos de filmes que, dos anos 30 aos anos 60, proporcionarão perspectivas que hoje são, literalmente, História.
Um tópico a adicionar no roteiro cultural e exposição a não perder, de 29 de Maio deste ano a 18 de Junho de 2011.
LG

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Vozes Silenciosas

É porventura uma expressão - entre outras possíveis - que pode definir o que o cineclube tem para nos oferecer esta semana. Falamos do filme Ruínas, com razoável receita de exibição e premiado o ano passado em Lisboa no Festival Indie e também no Festival de Documentário de Marselha.
Manuel Mozos (de quem já vimos a ficção 4 Copas) dirige com a precisão de um relógio uma obra que, documental, vive também da justaposição de elementos para produção de sentidos, convocando-nos para olhar em direcções menos directas.
Se o mote do filme é a implosão das torres da península de Tróia e as imagens do cemitério do Prado do Repouso, é porque o realizador pretende convocar a morte. Morte por destruição, morte por ausência de quem desapareceu. Mas estes dois trechos têm a habilidade de nos fazer reparar em espaços que não estão destruídos, estão apenas esquecidos pelas pessoas.
Todavia, esses espaços continuam habitados por "fantasmas", vozes do passado, lembradas em passagens de textos que são lidas e que convocam a anterior habitabilidade dos edifícios agora vazios. É por isso que sentimos o sanatório das Penhas da Saúde, completamente abandonado, cheio de memórias e vozes que o habitam ainda, tal como acontece com o restaurante Panorâmico de Monsanto. Um e outro, exemplos entre muitos, acabam por invocar a memória do século XX português.
Em última análise, é do país que se trata. Um país que, como os edifícios, tende a uma dignidade silenciosa, envolto em memórias de outros tempos muitas vezes convocados, talvez demasiadas vezes. E sem que surja remédio. Diz o próprio Manuel Mozos: "Há um lado, que sinto que é um bocadinho o país, de grandes esperanças mas, ao mesmo tempo, de uma certa mesquinhez, uma coisa de remediado."

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Indie Highlights

Foi na 5ª feira passada que começou mais um festival de Cinema Independente de Lisboa. A abrir, um filme português pela primeira vez em sete anos. João Canijo assina Fantasia Lusitana, trabalho de montagem com base em imagens de arquivo do tempo do regime ditaturial português, concentradas na 2ª Guerra Mundial. Com satisfação, o filme (aliás, video) cumpriu as expectativas de uma das maiores salas de Lisboa, completamente esgotada. Sobre a ideia desta obra, damos a palavra ao próprio realizador, em entrevista no dia I (de Indie) ao jornal i:
"Não quero provar nada. A ideia é apenas mostrar como as coisas eram. E quem tiver olhinhos vê que a herança ainda cá está e o nosso país não mudou assim tanto".
O filme é um soberbo mergulho no Portugal dos anos 40, altura em que o país cinzento vivia num mundo "cor-de-rosa" enquanto a Europa, e não só, se consumia num conflito armado. Cépticos? As imagens falam por si, sem locuções que não as da época.
Em diálogo com este trabalho, o video Tarrafal - Memórias do Campo da Morte Lenta, que respira a claustrofobia das celas de uma das prisões do regime. Mas mais do que os presos políticos portugueses, a autora vai à procura dos testemunhos dos africanos do PAIGC que, durante a Guerra Colonial, ali encontraram a penalização pela sua actividade subversiva, que era como se chamava noutro tempo a quem lutava pela auto-determinação.
Do fim-de-semana, e ainda do cinema português, retivemos impressões do documentário A Cidade dos Mortos de Sérgio Trefaut, munido de um tema de grande potencial. Como é viver numa cidade onde se coabita permanentemente com os mortos? Assim acontece numa cidade egípcia em que as pessoas começaram a habitar os jazigos, primeiro momento da expansão de uma localidade que também é um enorme cemitério, onde os túmulos estão ao virar de cada esquina, ou atrás de cada porta, de cada sala, cozinha, quarto ou arrecadação.
The Bad Lieutenant de Abel Ferrara, encontra pela mão do alemão Werner Herzog, de quem já vimos Grizzly Man, um remake com Nicolas Cage. Grande desempenho do actor norte-americano, num enredo intrincado e de grande fôlego, mas sem a devida exploração do pano de fundo: as cheias de New Orleans. Esperar-se-ia porventura mais, de uma realizador conhecido por rodagens em extremas condições.
"Last but not least", o documentário Leonard Cohen: Live at the Isle of Wight, já deste ano. Murray Lerner foi um, entre muitos, dos operadores de câmara que acompanharam este concerto de 1970, no âmbito do festival de música daquela ilha britânica. Lerner junta imagens do concerto com outras de carácter contestatário, na base de conflitos havidos no festival. Entre outros intervenientes, entrevista de 2009 a Joan Baez. Uma hora de boa música e bom cinema documental.
O mesmo se poderá dizer, ainda que não tenhamos estado presente, do documentário When You're Strange. Realizado por Tom DiCillo, "a mais humana e honesta visão" sobre uma banda incontornável dos anos 70 e o seu carismático líder. O seu nome? The Doors, claro.
Como houve uma pausa na escrita deste texto, não para café mas para telefonema, podemos dizer que o André ficou entusiasmado com estes dois últimos filmes, ou não fosse um homem que gosta de música e que viveu (Viveu) os anos 70. Na melhor das hipóteses, o Cineclube vai conseguir projectar os dois, em ambientes de festa que já conhecemos e experienciámos.
Quanto ao Indie, veremos que novas surpresas nos reserva para antes, durante e depois das projecções pois, como diz o cartaz, são filmes que não terminam quando acabam...
LG

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Música, Western e Spaghetti: Ennio Morricone

A distinta sonoridade identifica-o, aliando melódicas notas a um bem conseguido gosto a kitsch que não é vergonha nenhuma. E de entre estas, têm particular expressão os westerns que na nossa vizinha Andaluzia se fizeram em tempos, no chamado Deserto de Almeria. Por ali andaram Clint Eastwood e Lee van Cleef, Eli Wallach e Gian Maria Volonté que, dirigidos por Sergio Leone, reinventaram o género conhecido por Western Spaghetti.
De orçamento muito mais baixo do que os grandiosos westerns de John Ford e companhia, as obras de Sergio Leone têm um lado melancólico, cru, pardacento, de heróis sujos e com barbas de dias, muito mais próximos de uma realidade de quem andou a desbravar as longínquas paragens norte-americanas.
Leone negou aos seus filmes e aos seus heróis o lado colorido e bem escanhoado de John Wayne. Claro que, tal efeito, teria de vir de uma país - Itália - que viu nascer o Neorealismo que conviveu com a guerra, com poucos recursos financeiros e de equipamento, e dos dramas humanos que o fenómeno acarretava.
E no entanto - e por isso mesmo - há um tom de grande poder nos planos de Leone, de energia crua nas suas tramas, magistralmente acompanhados pelas notas musicais de Ennio Morricone. Nascido em Roma em 1928, tem no currículo um impressionante número de bandas sonoras que passa a barreira das 500. Para além das famosíssimas obras para Leone nos filmes A Fistfull of Dollars / Per un Pugno di Dollari, For a Few Dollars More / Per Qualche Dollari in Piu e The Good the Bad and the Ugly / Il Buono, Il Malo e il Cativo; Morricone tem criações como The Mission de Roland Joffé, The Untouchables de Brian de Palma ou Bugsy de Barry Levinson, além de uma grande produção musical nos Estados Unidos bem como em Itália.
Em 2007 recebeu o Óscar Honorário de carreira, e Quentin Tarantino quis fazer dele o compositor para o filme Inglorious Basterds, que recusou por razões de agenda. De resto, os filmes de Tarantino são ricos em peças de Ennio Morricone, sobretudo o díptico Kill Bill.
Para ouvir, The Man With the Harmonica do filme Once Upon a Time in the West / C'era una Volta Il West.
Este último filme, apogeu do Western Spaghetti, obrigatório para qualquer cinéfilo, já foi tentativa de programação do nosso cineclube. mas a Atalanta, distribuidora em Portugal, perdeu uma bobina... Acreditem se quiserem. Ou se puderem.
LG


terça-feira, 13 de abril de 2010

Filmes Suecados

O blog leu a notícia(1) e aprendeu o que a expressão significa, a partir da experiência que foi levada a efeito no último Domingo em Lisboa, com base no filme Sound of Music de Robert Wise, mais conhecido como o musical que fala do romance entre o Capitão Von Trapp e Maria, no meio da recusa ao regime nazi.
Suecar um filme significa proceder à sua adaptação, a qual tem carácter de exercício rápido e paródico, com poucos ou nenhuns recursos. A "suecada" de Música no Coração ocorreu depois da experiência de Titanic, levada a efeito, também, pela Cinalfama.
A origem do fenómeno dos sweded movies nasceu a partir do filme Be Kind Reward de Michael Gondry. Nele, o protagonista tem a infelicidade de apagar o que está gravado em cassetes do clube de video de um amigo. Os dois decidem então refazer os filmes com a ajuda da população local. Estas novas versões "vinham da Suécia", assim era justificado aos clientes perante a demora da distribuição de cópias. Quanto à distribuição e exibição destes "jogos de sueca", o núcleo de cinema de Alfama - Cinalfama - encarrega-se do circuito, em ambiente de convívio e boa disposição, feito de pessoas que gostam de "brincar aos filmes", ou de experimentar exercícios de pró-cinema ou de representação.
Porque a brincar também se aprende qualquer coisa... às vezes...
LG
(1) Público, 11 de Abril de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Imperador Kurosawa

Se fosse vivo, faria hoje 100 anos o "Imperador do Cinema". Akira Kurosawa foi o responsável pela projecção no Ocidente das cinematografias orientais em geral e do Japão em particular.
Esse fenómmeno de abertura, significativo quanto baste, torna-se mais importante na medida em que foi operado por um realizador japonês, no pós-guerra, poucos anos depois da destruição maciça das cidades de Hiroshima e Nagasaki, graças à mortal criação do senhor Openheimer. Assim, em 1950, o filme Rashomon (As Portas do Inferno) vence no Festival de Veneza e arrebata o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano seguinte, oito anos depois de se estrear na realização, e ao cabo de dez obras assinadas.
De 1954 chega a sua obra-prima absoluta, de entre, no entender de Francis Ford Coppola, oito obras-primas: Sichinin no Samurai, que em português teve a tradução literal de Os Sete Samurais. Seguiram-se filmes como Yojimbo (O Invencível) ou Dersu-Uzala, este já na década de '70.
Foi então que os arautos da brat generation, tornados milionários, entenderam financiar o mestre japonês que, angustiado, estava à beira do suicídio por não conseguir dinheiro para filmar. Falamos de realizadores americanos cujo cinema tem reconhecida influência de Kurosawa: Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, George Lucas e Steven Spielberg. É neste ambiente que surgem as obras Kagemusha (A Sombra do Guerreiro), Ran (Os Senhores da Guerra) e Yume (Sonhos de Akira Kurosawa).
Filmes como A Fistfull of Dollars de Sergio Leone, Star Wars de George Lucas ou The Magnificent Seven de John Sturges, têm influência mais ou menos directa de filmes de Kurosawa. Outros realizadores, como Federico Fellini, Andrei Tarkovsky, Takeshi Kitano, Werner Herzog ou mesmo Ingmar Bergman, reconhecem a influência do "Imperador do Cinema".
No dia do seu Centenário, o blog presta homenagem a um grande criador da sétima arte.
LG
Filmografia:
Sugata Sanshiro, 1943
Ichiban Utsukushiku, 1944
Zoku Sugata Sanshiro, 1945
Tora no o wo fumu otokotachi, 1945
Asu o tsukuru hitobito, 1946
Waga seishun nu kuinashi, 1946
Subarashiki nichiyobi, 1947
Yoidore Tenshi, 1948
Rashomon, 1950
Shizukanaru ketto, 1949
Nora inu, 1949
Rashomon, 1950
Shubun, 1950
Hakuchi (O Idiota), 1951
Ikiru, 1952
Shichinin no samurai, 1954
Ikimono no kiroku, 1955
Kumo no su-jo (Trono de Sangue), 1956
Donzoko, 1957
Kakukshi toride no san akunin, 1958
Warui yatsu hodo yoku nemuru, 1960
Yojimbo, 1961
Tsubaki Sanjuro, 1962
Tengoku to jigoku, 1963
Akahige, 1965
Dodesukaden, 1970
Dersu Uzala, 1974
Kagemusha, 1980
Ran, 1985
Yume, 1990
Hachigatsu no kyoshikyoku (Rapsódia em Agosto), 1991
Madadayo (Ainda Não!), 1993

segunda-feira, 8 de março de 2010

Os Oscares e o Dia do Sexo "Fraco"

Da noite surgiram os vencedores dos Oscares 2010. A estatueta dourada mais famosa do mundo acabou por ser entregue ao filme The Hurt Locker de Kathryn Bigelow, o que é verdadeiramente histórico.
O grande favorito Avatar ficou-se por algumas categorias técnicas, enquanto o filme de Bigelow - de orçamento muito mais baixo - conquistou prémios técnicos, mas também de argumento, realização e de filme do ano. É a primeira vez que que um Oscar é atribuido a uma realizadora, que nos oferece um filme de guerra que passou despercebido em Portugal, relegando para 2º plano (ou se calhar 3º ou 4º) o ex-marido James Cameron.
A estatueta de Hollywood, diz a lenda, foi baptizada por uma mulher. A secretária da Academia terá dito acerca do prémio desenhado pelo director artístico Cedric Gibbons, que se pareceria com o seu tio Óscar. A história não é pacífica, uma vez que também Bette Davis reclamava a autoria, sugerindo as semelhanças entre o Oscar-estatueta e o Oscar-marido. Seja como for, será sempre nome da autoria de uma mulher, embora tenha sido Walt Disney o primeiro a chamar Oscar ao galardão, em público e pela primeira vez.
É de referir, no rescaldo da celebração, que dos Oscares de interpretação, a mais premiada das mulheres é Katherine Hepburn, que por quatro vezes ganhou o Oscar de Melhor Actriz. Edith Head, por sua vez, é a mulher mais premiada, tendo recebido por 8 vezes o prémio do Guarda-Roupa.
Com o Oscar de Kathryn Bigelow (aliás dois, Realização e Filme), o Oscar para a Realização chegou finalmente ao género feminino, isto na própria noite (entre nós) que anunciava o Dia da Mulher, hoje, dia 8 de Março, numa bonita coincidência cinematográfica. Parabéns pois, a todas as mulheres, que pelo cinema andem, ou que dele gostem, ou que pura e simplesmente gostem do que mostra o cinema: a Vida.
Quanto aos Oscares e por este ano, "That´s All Folks!" E para quem quiser, encontra aqui a lista de premiados: http://www.oscars.org/awards/academyawards/82/nominees.html
LG

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tavira: O Cinematógrafo e a electricidade

Descobrimos, por acaso, uma carta de 1917 endereçada à Câmara Municipal de Tavira. Motivo? A utilização de electricidade para espectáculos de cinematógrafo, isto é, as pioneiras projecções cinematográficas em Tavira, antes, muito antes, das nossas aventuras das Mostras de Cinema de Verão, altura em que o André se transforma em "homem da manivela". Manivela, sim, pois foi justamente a electricidade que fez com que terminasse a difícil tarefa da projecção manual.
Sabe-se da existência de dois locais que se sucederam em Tavira e pertencentes aos mesmos donos neste tipo de espectáculo: Largo da Alagoa e, logo depois, final da Rua 1º de Maio. De resto, a própria gerência nos diz o nome da empresa: Salão 1º de Maio, salão em forma de barracão, e muita sorte para a cidade pois, muitos deles não passavam de lona, ao sabor das vontades dos ventos, da chuvas e das elevadas temperaturas estivais.
Fica a transcrição integral respeitando a grafia original.
LG

«Exmo. Sr. Presidente e mais membros da Comissão Executiva do Concelho de Tavira. Nós abaixo assinados proprietários do Animatographo “Salão 1º de Maio” desejando aproveitar-nos da energia eléctrica pública para iluminação do referido animatographo e aparelho de projecção, vimos rogar a VExas se dignem dizer-nos se nol-a podem fornecer afim de, com a máxima urgência, podermos proceder à nova instalação.
Saúde e Fraternidade
Tavira 24 de Outubro de 1917
João Baptista Carvalho
José Viegas Mansinho»
FONTE: Arquivo Histórico Municipal, Correspondência Geral Recebida, PASTA A248

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Alice, por Tim Burton

Ontem foi o dia da ante-estreia mundial, que ocorreu simultaneamente nos Estados Unidos e na Inglaterra. O filme, Alice in Wonderland, é o mais recente devaneio do americano Tim Burton, mestre da herança expressionista das sombras e do claro-escuro, das formas retorcidas e da caracterização como protagonista, agora aplicados à obra de Lewis Carroll.
Com estreia marcada em Portugal para o próximo dia 4 de Março, o filme conta com a habitual população dos filmes deste realizador, Johnny Depp e Helena Bonham-Carter, à cabeça de um elenco que conta também com Crispin Glover, Anne Hathaway e Mia Wasikowska como protagonista.
Tim Burton é, por si mesmo, uma notícia. A sua excentricidade está posta ao serviço da 7ª Arte, filme após filme, numa obra que conta já com vários géneros cinematográficos, mas todos eles revestidos de fantasia, não bela mas sim de um violento obscurantismo por vezes perturbante. Não admira pois, que o jovem animador dos estúdios Disney se tenha emancipado como realizador de animação com o filme The Island of Doctor Agor em 1971.
No início dos anos 80 afirma-se com os títulos Luau, Hansel and Gretel, Frankenweenie e, sobretudo, Vincent. Este "pequeno" trabalho, homenagem aos sonhos de qualquer criança como de Tim Burton, povoados de fantasia, mistério, medo do desconhecido, é também uma homenagem ao actor-ícone do cinema fantástico Vincent Price, que magistralmente como só ele sabia, faz a narração desta animação de Tim Burton.
Quando o filme Tim Burton's The Nightmare Before Christmas andou pelas salas portuguesas, em 1993 e 1994, tivemos a oportunidade de conhecer Vincent, como complemento das sessões. Podemos agora, graças à tecnologia posta à nossa disposição, ver ou rever o princípio de um fenómeno chamado Tim Burton, enquanto não é tempo de irmos ao país das maravilhas.
LG

Berlinale 2010: Ende und Metropolis

Chegou ao fim a edição 60 do Festival Internacional de Cinema de Berlim. De entre um palmarés com algumas surpresas., destaca-se Honey, do turco Semih Kaplanoglu, que sensibilizou o júri pela narrativa que mostra o sofrimento interior infantil, e ganhou o Urso de Ouro.
O prémio de Melhor Actor foi atribuído ex-aequo aos actores russos Grigori Dobrigin e Sergei Puskepalis. São os protagonistas de How I Ended This Summer de Alexei Popogrebski, isolados numa estação meteorológica do Árctico, filme de características semelhantes ao melhor cinema de Werner Herzog, presidente do júri, a quem o blog já dedicou uma entrada.
O Melhor Realizador foi Roman Polanski, com The Ghost Writer, prémio recebido pelos produtores. Polanski tem grande capital de simpatia por parte da comunidade artística, efeito da sua complexa situação judicial, razão pela qual esteve ausente. O cineasta polaco, comentando o prémio, referiu com humor: “A última vez que fui a um festival de cinema fui preso”, segundo uma citação no jornal Público de 21/2/2010.
A grande notícia do Festival vem, contudo, do passado. Faz mais de oitenta anos desde que Fritz Lang deu ao mundo uma obra-prima chamada Metropolis, realizada em 1927. Há vários anos, a Cinemateca Portuguesa apresentou a mais completa versão conhecida, colaborando intensamente no restauro depois de, nos seus cofres, ter sido encontrado material desaparecido. Em 2008, no entanto, foi descoberta em Buenos Aires a mais próxima versão do original, que no seu tempo, tinha 150 minutos, antes de ganhar a etiqueta de filme maldito e perigoso no parecer da pequenez do 3º Reich.
A partir desta cópia, em 16mm, o seu restauro foi dirigido por Martin Körber da Fundação Friedrich Murnau. Após visionamento privado, Metropolis viu novamente o deslumbramento do público ao ser projectado ao ar livre, muito justamente na Porta de Brandenburgo na capital alemã, perante 2000 pessoas que o frio não moveu no último dia 12 de Fevereiro, a 6ª feira em que a obra-prima (ou uma das) de Fritz Lang re-conquistou Berlim
LG

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Os Pássaros, a Chuva e o Sting

O blog foi a Tavira e esteve na projecção de Birdwatchers - La Terra degli Uomini Rossi, juntamente com mais… 7 pessoas. Seria fácil dizer que todos os outros não sabem o que perderam, mas a verdade é que o caso é exactamente o inverso. Numa noite chuvosa que não convidava a sair de casa, o filme de Marco Bechis teve um efeito desconsolador para quem imaginava ir ver contar uma boa história sobre índios revoltados contra a regra cara-pálida das reservas.
A infelicidade bate à porta da tribo quando o aprendiz de pajé se envolve com a filha do fazendeiro, preocupado este em eliminar a presença nativa que invadiu (ou retomou) uns metros quadrados dos seus terrenos, e que por acaso é casado com uma organizadora de expedições para observação de pássaros. História com potencial? Sim, mas seria preciso uma outra direcção de actores e uma realização segura que conhecesse profundamente a situação dos índios da tribo guarani-kaiowá.
104 minutos que completaram este dia do cineclube, dia esse que pôs termo ao extraordinário efeito da água da chuva a correr pela parede do quadro eléctrico do cine-teatro. Numa altura em que corre a notícia de que talvez – para já é apenas uma possibilidade – o imóvel não vá ser demolido para outro nascer, mas sim reabilitado; a Câmara Municipal dá mostras de se preocupar com o seu património para as artes performativas (ainda bem, pois custou 270 mil contos em moeda antiga) e fez deslocar ao telhado do cine-teatro três técnicos qualificados que sabiamente ajustaram um algeroz…
O episódio permitiu ao blog a visita a áreas normalmente inacessíveis e, para quem por essas coisas se interessa, como nós, ficam imagens de um dos camarins, da teia e do telhado, não de zinco quente nem com gatos como no filme de Richard Brooks (1), mas também sem ninhos nem pássaros, tal como não os há em Birdwatchers, filme italo-brasileiro de 2008 que passou em Tavira numa noite chuvosa.
A propósito de chuva, recordámos entre outros o filme de Mira Nair Monsoon Wedding, que veio à memória debaixo de uma “monção” de música debitada pela banda que tocava “só em inglês”, e onde Gordon “Sting” Summers dominou a actuação. Na falta de cinema, houve pipas de música. Aliás, meias-pipas. Perdoem-nos o parágrafo com que fechamos, pois muito poucos – muito poucos mesmo – podem entender. Mas não resistimos…
LG
(1) Cat On a Hot Thin Roof, Richard Brooks, 1958