segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Assim e Assado

Diz o slogan, a propósito de Santa Luzia ser a capital do simpático cefalópode: "O polvo é bom. Assim e assado".

O blog apresenta, muito a propósito, o documentário Na Teia do Polvo, rodado durante este ano em Santa Luzia. Neste trabalho se dá a conhecer a evolução da pesca do polvo, as agruras e alegrias dos pescadores, o seu modo de vida e a sua difícil situação, graças às políticas de pesca que, discutidas tão longe, se vão praticando entre nós. Dito isto, parece este mais um documentário que aborda pela enésima vez os mesmos temas e variações e da mesma forma. Puro engano.

Em primeiro lugar, porque o realizador e argumentista avançou sozinho para este e outros trabalhos, sem saber se chega a receber apoios que lhe foram destinados. Esta é "simplesmente" uma aventura em que José Meireles, na companhia da sua reduzida equipa - Pedro Davim e Alexandre Lau - parte à procura das pessoas e dos segredos de Santa Luzia, auscultando atentamente o que elas e eles têm para contar.

Em segundo lugar, porque a forma de trabalhar de José Meireles está próxima, na nossa opinião, do trabalho de António Campos. O realizador leiriense, em Falamos de Rio de Onor, 1974, anuncia no genérico que o filme é "realizado a expensas do autor". Mas para além do lado financeiro, é como Campos que José Meireles "desce" do seu ponto de observação filtrada pela câmara, para se colocar ao nível do olhar, do sentimento, do sofrimento, do suor, das lágrimas do pescador, esse indivíduo tão caro a António Campos. É ombro a ombro com o pescador que assiste à preparação das armadilhas e à captura do polvo. É por entre a comunidade piscatória que se move, é no seio da família que observa as vozes, os calos, as rugas e a vida do pescador. E estes são os aspectos, mais do que as técnicas que trazem o polvo até ao prato, que tecem a verdadeira teia que o título anuncia.

O blog está em condições de anunciar que este documentário, rico em conteúdo que é parte da herança cultural do Concelho de Tavira, será projectado no Cine-Teatro António Pinheiro no próximo dia 17 de Dezembro. Muito provavelmente, o realizador José Meireles fará a apresentação, com a sua imagem de conhecido actor, mas com a modéstia e o low-profile dos bons observadores das coisas da vida.

LG












Filmografia - Actor de Cinema:

Malvadez, Luis Alvarães, 1990

Coitado do Jorge, Jorge Silva Melo, 1993

O Miradouro da Lua, Jorge António, 1993

Três Irmãos, Teresa Villaverde, 1994

Zéfiro, José Álvaro Morais, 1994

Do Outro Lado do Tejo, Piconé, 1995

Tentação, Joaquim Leitão, 1997

Camarate, Luís Filipe Rocha, 2000

Combat d'Amour en Songe, Raoul Ruiz, 2000

Peixe Lua, José Álvaro Morais, 2000

Xavier, Manuel Mozos, 2001


Filmografia - Realizador:

Uma Casa na História, 2009

Afurada - Cerco com Tucas, 2010, documentário

Na Teia do Polvo, 2011, documentário

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

D'Aprés Hergé!

Era inevitável. Mais cedo ou mais tarde, na senda desse filão de argumentos chamado Banda Desenhada, Tintim tinha que chegar à tela, ainda que este projecto tenha estado em maturação durante quase vinte anos, e ainda que haja anteriores adaptações.

Steven Spielberg e Peter Jackson, cineastas que dispensam apresentações, tecnicamente exigentes e irrepreensíveis, assinam uma obra cinematográfica muito especial. A tecnologia motion-capture, de que vimos Gollum da saga Lord of the Rings e King Kong, permite hoje a animação digital das personagens do mundo do jovem jornalista belga.
E a verdade é esta: a riqueza do filme - para o blog um maravilhoso filme de aventuras - está no compromisso entre os traços bidimensionais da BD e a tridimensionalidade que o digital permite, humanizando as figuras sem escapar ao tão falado "espírito da série". Este espírito, claro está, faz de Tintim um fenómeno intemporal de aventuras para consumir "dos 7 aos 77 anos".

O livro O Segredo do Licorne é uma história que se completa com O Tesouro de Rackham o Terrível, habilmente condensadas e adaptadas à Sétima Arte, com muitos elementos de um outro livro, anterior, que tem por título O Caranguejo das Tenazes de Ouro, além de muitas piscadelas de olho a várias outras aventuras. Tintim, Milú, Dupont e Dupond, Castafiore e o incontornável Haddock do também incontornável Andy Serkis, habituée nestas coisas do motion-capture. Todos humanizados, tridimensionais e fiéis às caracterizações livrescas, física e psicologicamente.

The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn arrisca-se a ser um caso muito sério de popularidade, que promete não se esgotar antes de vários livros adaptados ao cinema por Peter Jackson, segundo o que está estipulado.

Mas muito mais do que isso, o espírito Tintim sempre transportou consigo - e agora para as grandes massas consumidoras - o espírito de um herói terra-a-terra, sem poderes nem poções, com uma profissão, e que resolve problemas e vence criminosos com as mais poderosas armas do mundo: a inteligência e o bom senso.

Assim sendo, não sejamos detractores deste filme só porque se trata de cinema norte-americano, de efeitos especiais e de Steven Spielberg, pois este é um filme para todo o mundo. Para todos os povos. Para toda a humanidade.

Resta agradecer ao internacional triunvirato (uma palavra portuguesa para troika, imagine-se) composto pelo americano Spielberg, pelo neo-zelandês Jackson e pelo belga Georges Remy, aliás Hergé.

LG

Outras adaptações:


1961 - Tintin et la Mystère de la Toison d'Or


1964 - Tintin et les Oranges Bleues


1969 - Tintin et le Temple du Soleil (animação)


1972 - Tintin et le Lac aux Requins (animação)