quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Na Terra, no Mar, a Ilha do Corvo

Esta 6ª feira chega ao Cineclube de Tavira o documentário de Gonçalo Tocha É na Terra não é na Lua.
Em ano e meio de rodagem Tocha recolheu muitas "milhas" de material, que acabou por resultar numa montagem que dá à narrativa um retrato diário.
Esta opção, resulta também da familiaridade desenvolvida com a população, o que compromete a plenitude, porventura, do retrato social anunciado, de uma comunidade que, como se lê na sinopse, conta com 450 habitantes, uma escola, um posto médico, um restaurante, um avião cada três dias.
Mas não é por isso que o trabalho de Gonçalo Tocha não tem mérito. A equipa de rodagem fez parte, afectuosamente, das famílias da Ilha  do Corvo, absorveu histórias, absorveu lágrimas e risos, que nos devolve a nós, espectadores, embrulhadas pela paisagem de mar, de terra com cheiro a verde, com as cores da Lagoa da cratera, com a imponência do Monte Gordo.
Lugares que não são da Lua, são bem na Terra, como Tocha quis sublinhar, gritando que há lugares assim, longe do bulício, dos bombardeamentos comerciais, da infestação da vida a correr. Ali, no extremo ocidental da Europa que se afunda, sobrevive o Corvo, que António Escudeiro filmou em 1977, e que na altura tinha 350 habitantes, marcados pelas histórias de existência precária e subsequente imigração.
Mas em 1977, como em 2007, ano em que Gonçalo Tocha chegou ao Corvo, os 17 quilómetros quadrados de ilha e da sua vida encerram o que José de Matos-Cruz escreveu um dia a propósito do filme de António Escudeiro (Ilha do Corvo, 1977): "dinâmica profundamente marcada pela condição impressionante da (bela) paisagem - nesta terra de futuro incerto, fora das rotas acessíveis e usuais".
Um retrato a levar em conta e para contemplar, na próxima  sessão do Cineclube de Tavira.
E ATENÇÃO! A soiré ocorre excepcionalmente na 6ª feira, dia 2 de Novembro. Como de costume, às 21:30h, no Cine-Teatro António Pinheiro.
LG

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Alô Brasil, Aquele Abraço!

















É com muita satisfação que anunciamos ter atingido a marca de dois milhões e meio de visitas ao blog, a partir de território brasileiro.

Encontrámos, por um acaso, a referência em http://urlpulso.com.br/www.cineclubedetavira.blogspot.com.
Isto significa que o blog, e sobretudo o Cineclube de Tavira, tem uma voz que se ouve muito longe, por muita gente. Significa que aqueles que não são subsidio-dependentes podem, com seriedade e algum engenho, trabalhar pela cultura, pela educação de públicos, bater o pé a muita gente e a muitos vícios instalados, projectando-se mundialmente e fazendo-se ouvir.

Assim é o Cineclube de Tavira, que com o mesmo engenho, com arte e imaginação, com inteligência, tem sabido manter-se vivo. E com eco da sua actividade em distantes paragens. Estamos todos de Parabéns.

Conhecem outro exemplo em Tavira? Ou mesmo no Sotavento? Pois...
LG

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Descoberto o primeiro filme a cores do Mundo"

O blog quebra o silêncio com uma nota sobre cinema mudo.
Mas mais que cinema mudo, trata-se de uma descoberta assinalável que, não sendo de ontem, pertence indiscutivelmente ao universo das marcas da historiografia de Cinema. Abaixo, poderão dar uma vista de olhos ao próprio filme e a umas quantas notas sobre o seu restauro.
Damos voz a Cláudia Carvalho, que a respeito do tema escreveu no Público de 14 de Setembro de 2012:

Foi encontrado no Reino Unido, aquele que será o primeiro exemplar de um filme a cores, datado de 1901 ou 1902. Até aqui os registos e a história do cinema relatavam que a primeira obra a ser exibida a cores tinha sido em 1909, depois de em 1906 se ter patenteado o sistema Kinemacolor, que permitia produzir películas a cor.

O filme estava esquecido há décadas dentro de uma lata e foi recentemente descoberto e restaurado no National Media Museum, em Bradford, que só agora anunciou o achado por estar em condições de exibir a película, pela primeira vez. Realizado pelo fotógrafo londrino Edward Raymond Turner, o filme, em que se vêem três meninos, possivelmente filhos de Turner, foi digitalizado de forma a poder recuperar a cor original da época. A descoberta é considerada como uma das mais importantes na história do cinema, uma vez que dá novas luzes sobre o aparecimento dos filmes a cores. “Acreditamos que isto vai reescrever a história do cinema”, disse ao The Telegraph Paul Goodman, responsável pela colecção do National Media Museum, sublinhando que “Edward Turner é o pai das imagens a cores em movimento”. “Não é um exagero. Estas são as primeiras imagens do mundo a cores em movimento.”

A morte precoce de Edward Turner, que morreu em 1903 de ataque cardíaco, não permitiu que o fotógrafo continuasse a desenvolver a sua técnica, nunca tendo passado dos testes e por isso sempre longe da vista do público. Em 1899 Turner tinha mesmo patenteado a sua prática, que se baseava em fotografar frames a preto e branco através de filtros azuis, verdes e vermelho. 

“É mesmo muito significativo, é definitivamente o primeiro filme a tentar captar as cores naturais, é realmente bonito”, disse à BBC Bryony Dixon, curadora do cinema mudo no British Film Institute (BFI), explicando que existem registos de alguns filmes a cores anteriores a 1902 mas não se tratam das cores reais, uma vez que os produtores pintavam o filme. “

Os filmes-teste de Edward Turner chegaram a Bradford há cerca de três anos para serem estudados e restaurados. Antes disso pertenciam ao museu de ciências de Londres que, em 1937, adquiriu a colecção do norte-americano Charles Urban, um pioneiro do cinema a viver em Londres e que financiou o método Kinemacolor. 

Entre os seus documentos e objectos estavam os filmes realizados por Turner. Por terem ficado esquecidos tanto tempo, sempre guardados em latas, o material de Turner foi encontrado em bom estado de conservação. O material foi encontrado por Michael Harvey, o comissário de cinema do museu londrino, que contactou os especialistas do Arquivo Nacional do British Film Institute. 

A razão pela qual este material passou despercebido tanto tempo foi, segundo Bryony Dixon, o seu “estranho formato”. “Foi filmado em 38 mm, o que é maior do que a medida standard de 35 mm e por isso não funciona em nenhuma máquina de 35 mm”, explicou Dixon, acrescentando que teve de ser criado um aparelho especial, pela dupla Brian Pritchard e David Cleveland, para que o filme pudesse inicialmente ser visto.