terça-feira, 23 de março de 2010

Imperador Kurosawa

Se fosse vivo, faria hoje 100 anos o "Imperador do Cinema". Akira Kurosawa foi o responsável pela projecção no Ocidente das cinematografias orientais em geral e do Japão em particular.
Esse fenómmeno de abertura, significativo quanto baste, torna-se mais importante na medida em que foi operado por um realizador japonês, no pós-guerra, poucos anos depois da destruição maciça das cidades de Hiroshima e Nagasaki, graças à mortal criação do senhor Openheimer. Assim, em 1950, o filme Rashomon (As Portas do Inferno) vence no Festival de Veneza e arrebata o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano seguinte, oito anos depois de se estrear na realização, e ao cabo de dez obras assinadas.
De 1954 chega a sua obra-prima absoluta, de entre, no entender de Francis Ford Coppola, oito obras-primas: Sichinin no Samurai, que em português teve a tradução literal de Os Sete Samurais. Seguiram-se filmes como Yojimbo (O Invencível) ou Dersu-Uzala, este já na década de '70.
Foi então que os arautos da brat generation, tornados milionários, entenderam financiar o mestre japonês que, angustiado, estava à beira do suicídio por não conseguir dinheiro para filmar. Falamos de realizadores americanos cujo cinema tem reconhecida influência de Kurosawa: Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, George Lucas e Steven Spielberg. É neste ambiente que surgem as obras Kagemusha (A Sombra do Guerreiro), Ran (Os Senhores da Guerra) e Yume (Sonhos de Akira Kurosawa).
Filmes como A Fistfull of Dollars de Sergio Leone, Star Wars de George Lucas ou The Magnificent Seven de John Sturges, têm influência mais ou menos directa de filmes de Kurosawa. Outros realizadores, como Federico Fellini, Andrei Tarkovsky, Takeshi Kitano, Werner Herzog ou mesmo Ingmar Bergman, reconhecem a influência do "Imperador do Cinema".
No dia do seu Centenário, o blog presta homenagem a um grande criador da sétima arte.
LG
Filmografia:
Sugata Sanshiro, 1943
Ichiban Utsukushiku, 1944
Zoku Sugata Sanshiro, 1945
Tora no o wo fumu otokotachi, 1945
Asu o tsukuru hitobito, 1946
Waga seishun nu kuinashi, 1946
Subarashiki nichiyobi, 1947
Yoidore Tenshi, 1948
Rashomon, 1950
Shizukanaru ketto, 1949
Nora inu, 1949
Rashomon, 1950
Shubun, 1950
Hakuchi (O Idiota), 1951
Ikiru, 1952
Shichinin no samurai, 1954
Ikimono no kiroku, 1955
Kumo no su-jo (Trono de Sangue), 1956
Donzoko, 1957
Kakukshi toride no san akunin, 1958
Warui yatsu hodo yoku nemuru, 1960
Yojimbo, 1961
Tsubaki Sanjuro, 1962
Tengoku to jigoku, 1963
Akahige, 1965
Dodesukaden, 1970
Dersu Uzala, 1974
Kagemusha, 1980
Ran, 1985
Yume, 1990
Hachigatsu no kyoshikyoku (Rapsódia em Agosto), 1991
Madadayo (Ainda Não!), 1993

segunda-feira, 8 de março de 2010

Os Oscares e o Dia do Sexo "Fraco"

Da noite surgiram os vencedores dos Oscares 2010. A estatueta dourada mais famosa do mundo acabou por ser entregue ao filme The Hurt Locker de Kathryn Bigelow, o que é verdadeiramente histórico.
O grande favorito Avatar ficou-se por algumas categorias técnicas, enquanto o filme de Bigelow - de orçamento muito mais baixo - conquistou prémios técnicos, mas também de argumento, realização e de filme do ano. É a primeira vez que que um Oscar é atribuido a uma realizadora, que nos oferece um filme de guerra que passou despercebido em Portugal, relegando para 2º plano (ou se calhar 3º ou 4º) o ex-marido James Cameron.
A estatueta de Hollywood, diz a lenda, foi baptizada por uma mulher. A secretária da Academia terá dito acerca do prémio desenhado pelo director artístico Cedric Gibbons, que se pareceria com o seu tio Óscar. A história não é pacífica, uma vez que também Bette Davis reclamava a autoria, sugerindo as semelhanças entre o Oscar-estatueta e o Oscar-marido. Seja como for, será sempre nome da autoria de uma mulher, embora tenha sido Walt Disney o primeiro a chamar Oscar ao galardão, em público e pela primeira vez.
É de referir, no rescaldo da celebração, que dos Oscares de interpretação, a mais premiada das mulheres é Katherine Hepburn, que por quatro vezes ganhou o Oscar de Melhor Actriz. Edith Head, por sua vez, é a mulher mais premiada, tendo recebido por 8 vezes o prémio do Guarda-Roupa.
Com o Oscar de Kathryn Bigelow (aliás dois, Realização e Filme), o Oscar para a Realização chegou finalmente ao género feminino, isto na própria noite (entre nós) que anunciava o Dia da Mulher, hoje, dia 8 de Março, numa bonita coincidência cinematográfica. Parabéns pois, a todas as mulheres, que pelo cinema andem, ou que dele gostem, ou que pura e simplesmente gostem do que mostra o cinema: a Vida.
Quanto aos Oscares e por este ano, "That´s All Folks!" E para quem quiser, encontra aqui a lista de premiados: http://www.oscars.org/awards/academyawards/82/nominees.html
LG

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tavira: O Cinematógrafo e a electricidade

Descobrimos, por acaso, uma carta de 1917 endereçada à Câmara Municipal de Tavira. Motivo? A utilização de electricidade para espectáculos de cinematógrafo, isto é, as pioneiras projecções cinematográficas em Tavira, antes, muito antes, das nossas aventuras das Mostras de Cinema de Verão, altura em que o André se transforma em "homem da manivela". Manivela, sim, pois foi justamente a electricidade que fez com que terminasse a difícil tarefa da projecção manual.
Sabe-se da existência de dois locais que se sucederam em Tavira e pertencentes aos mesmos donos neste tipo de espectáculo: Largo da Alagoa e, logo depois, final da Rua 1º de Maio. De resto, a própria gerência nos diz o nome da empresa: Salão 1º de Maio, salão em forma de barracão, e muita sorte para a cidade pois, muitos deles não passavam de lona, ao sabor das vontades dos ventos, da chuvas e das elevadas temperaturas estivais.
Fica a transcrição integral respeitando a grafia original.
LG

«Exmo. Sr. Presidente e mais membros da Comissão Executiva do Concelho de Tavira. Nós abaixo assinados proprietários do Animatographo “Salão 1º de Maio” desejando aproveitar-nos da energia eléctrica pública para iluminação do referido animatographo e aparelho de projecção, vimos rogar a VExas se dignem dizer-nos se nol-a podem fornecer afim de, com a máxima urgência, podermos proceder à nova instalação.
Saúde e Fraternidade
Tavira 24 de Outubro de 1917
João Baptista Carvalho
José Viegas Mansinho»
FONTE: Arquivo Histórico Municipal, Correspondência Geral Recebida, PASTA A248