sexta-feira, 18 de junho de 2010

Homenagem

O dia de hoje, 18 de Junho de 2010, passará à História como o dia do desaparecimento do maior vulto da Literatura Portuguesa da 2ª metade do século XX e início do século XXI. José Saramago, 87 anos, faleceu hoje, deixando uma vasta e muito importante obra literária, resultado da sua observação e reflexão sobre o estado do mundo e do país.
Depois do romance da juventude (Terra do Pecado), de muitas crónicas e contos, de poesia, de muitos artigos de opinião, Saramago escreveria, já na casa dos 50, Manual de Pintura e Caligrafia, logo seguido de Levantado do Chão, livro que manifesta a sua forma de escrever que poucos apreciam sem nunca terem lido. É este romance, sobre a luta diária de trabalhadores alentejanos em latifúndios, aquele que marca o início do seu estilo literário tão estimado por uns como odiado por outros.
Memorial do Convento faz de José Saramago um caso sério da literatura aquém e além fronteiras, seguido de O Ano da Morte de Ricardo Reis, Jangada de Pedra e História do Cerco de Lisboa.
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, envolto em grande polémica, é alvo de "censura" do próprio Governo, impedindo-o de concorrer a prémios e levando ao seu auto-exílio na ilha de Lanzarote; seguindo-se Ensaio Sobre a Cegueira, o melhor romance do escritor na nossa opinião, e Todos os Nomes. É a seguir a este último que Saramago ganha o Prémio Nobel de Literatura, chamando a atenção do público português sobre o mais traduzido autor entre nós nascido.
A lista de romances - estamos concentrados nos romances - termina com os títulos A Caverna, O Homem Duplicado, Ensaio Sobre a Lucidez, As Intermitências da Morte, A Viagem do Elefante e Caim.
De modestas raízes, nunca as pôs de parte, sobretudo à figura do avô, analfabeto e "o homem mais sábio que conheci". A estas raízes soube conjugar as suas ideias sobre a sociedade que observava, manifestando-as através de uma escrita apaixonante, fascinante, envolvente. Escrevia retratos intensos, formados por uma força de escrita dificilmente inigualável, fruto, de resto, das suas fortes influências no Realismo Fantástico que podemos encontrar em vários e consagrados autores latino-americanos.
Ao cinema - e porque aqui tratamos essencialmente de cinema - foram adaptados o poema Objecto Quase, A Jangada de Pedra, Ensaio Sobre a Cegueira e A Maior Flor do Mundo, este um conto passado a animação.
Ao escritor, ao homem, ao ser humano, um abraço onde quer que esteja.
LG


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Portugal dos Pequeninos

Toda a gente conhece, pelo menos de nome, o famoso parque em Coimbra onde é possível passear por entre miniaturas de edifícios marcantes da História e arquitectura em Portugal.
O nome do parque vem a propósito da chamada de atenção para o filme de João Canijo Fantasia Lusitana, que abriu o último Festival Indie Lisboa. Canijo procura dar a conhecer como era este belo país neutro durante a 2ª Guerra Mundial, gloriosamente celebrado num periodo em que se festejavam as gloriosas festas do Duplo Centenário, promovidas pelo Estado Novo salazarista.
Um país a brincar, marcado por um ditadura, mas por onde passaram inúmeras individualidades de destaque de variadíssimas áreas, não por causa das festas, mas porque em Portugal, esse parque de diversões, não havia guerra.
João Canijo recorre a um muito significativo conjunto de imagens de arquivo para mostrar, a esta distância, como eram as coisas e, ao mesmo tempo, recorre ao testemunho de pessoas que por aqui passaram, como a filha de Thomas Mann ou Antoine de Saint-Exupéry. Inesperadamente cosmopolita, Portugal era sobretudo um país fechado sobre si próprio, e em que um punhado de pessoas brincavam às Nações.
E para a brincadeira, as edificações levantavam-se e as pessoas apareciam em "espontâneas" manifestações de apreço, enquanto boa parte da brincadeira era registada em película, para que quem não participasse a pudesse testemunhar depois. Para mostrar como eramos "grandes" e "gloriosos", mestres da fantasia. Lusitana, claro.
Enquanto Fantasia Lusitana não chega ao nosso Cineclube, na 6ª feira à noite, fica o trailer para as primeiras impressões.
LG

Portugal Limpo

Todos já ouviram falar, e alguns terão participado, na iniciativa conhecida por Dia L. L de Limpar Portugal, dia do passado recente em que Portugal se levantou cedo para acudir às acumulações de lixo que assolam o nosso jardim à beira-mar plantado.
Pois esse dia não passou. Não, ele deixou marcas, projectos, iniciativas. E uma dessas iniciativas é o concurso de video que, em vários escalões, se subordinam ao tema da limpeza do país.
O concurso Como Manter Portugal Limpo convida alunos de todos os escalões a realizar trabalhos em video subordinados ao tema que, ao mesmo tempo, é um desafio: a manutenção da limpeza em Portugal. E se no escalão que vai até ao 8º ano, o 1º prémio é um dia de actividades em parques como o Biológico de Gaia e o Monte Selvagem em Montemor-o-Novo, o que já não é de desdenhar, o que dizer então dos outros escalões?
Do 9º ao 12º ano, os jovens arriscam-se a ir a uma conferência na Indonésia... Quanto aos universitários, o programa ecológico na Malásia não é, de todo, de deitar fora, nem mesmo de reciclar.
Por isso, caros alunos e alunas de Tavira e do país, mãos à obra e criatividade no olhar das lentes!
Atenção, que os prazos desafiam à destreza e desembaraço!!
Mais informações em http://www.aspea.org/.
LG

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Cinema Português 6: Manuel Guimarães

Quando Manuel Guimarães se estreou na realização de longas-metragens em 1951, com o filme Saltimbancos, já tinha atrás de si um rasto de notoriedade.
Realizara dois anos antes a curta-metragem O Desterrado - Vida e Obra de Soares dos Reis, e tinha sido assistente, durante a década de 4o, de nomes como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto, Arthur Duarte, João Moreira e Armando de Miranda. A sua formação em Pintura e Decoração na Escola de Belas-Artes do Porto valeu-lhe várias exposições, enquanto colaborava em jornais e revistas como publicista e ilustrador.
O olhar do artista plástico está ao serviço do seu cinema, tanto nos "quadros" de grande plasticidade que realizou em O Crime de Aldeia Velha e em O Trigo e o Joio; como no retrato portuense que constitúi A Costureirinha da Sé, filmado a cores e em que os tons de pastel reconfiguram na tela as tonalidades de uma cidade de pedra escurecida e luz tímida.
É o único cineasta português que se aproximou, de facto, do Neorealismo. Não só isto é verdade pelas características de tais produções, de baixo orçamento, e em que os exteriores surgem como cenário principal privilegiado, como é também verdade pelas temáticas abordadas. A luta diária, as vidas difíceis, o desalento e a resignação, estão presentes nestes filmes, não obstante partirem de textos de autores próximos daquela corrente estética, como Leão Penedo, Alves Redol, Fernando Namora e Vergílio Ferreira. Concluíu o filme Cântico Final em 1975, ano em que viria a falecer e que, acaba por ser não autobiográfico, mas a história de alguém que vê a morte aproximar-se e que procura tranquilizar a consciência e o espírito.
Manuel Guimarães encabeça a transição entre a velha tradição do cinema português e o Cinema Novo, com o qual podem ser conotados algumas das suas obras, O Crime de Aldeia Velha à cabeça.
LG

Filmografia (curtas-metragens):
1949 - O Desterrado - Vida e Obra de Soares dos Reis
1956 - As Corridas Internacionais do Porto
1956 - O Porto é Campeão!
1961 - Barcelos
1961 - Porto - Capital do Trabalho
1961 - Vinhos Bi-Seculares
1967 - Artes Gráficas
1967 - O Ensino das Belas-Artes
1967 - O Porto, Escola de Artistas
1967 - Tapetes de Viana do Castelo
1968 - O Ritmo na Vida
1968 - Tráfego e Estiva (primeiro filme português em 70mm)
1969 - António Duarte
1969 - Expressos "Lisboa-Madrid"
1969 - Fernando Namora
1969 - Resende
1971 - Carta a Mestre Dórdio Gomes
1972 - Areia Mar - Mar Areia

Filmografia (longas-metragens):
1951 - Saltimbancos
1952 - Nazaré
1956 - Vidas Sem Rumo
1958 - A Costureirinha da Sé
1964 - O Crime de Aldeia Velha
1965 - O Trigo e o Joio
1972 - Lotação Esgotada
1975 - Cântico Final