quarta-feira, 2 de junho de 2010

Cinema Português 6: Manuel Guimarães

Quando Manuel Guimarães se estreou na realização de longas-metragens em 1951, com o filme Saltimbancos, já tinha atrás de si um rasto de notoriedade.
Realizara dois anos antes a curta-metragem O Desterrado - Vida e Obra de Soares dos Reis, e tinha sido assistente, durante a década de 4o, de nomes como Manoel de Oliveira, António Lopes Ribeiro, Jorge Brum do Canto, Arthur Duarte, João Moreira e Armando de Miranda. A sua formação em Pintura e Decoração na Escola de Belas-Artes do Porto valeu-lhe várias exposições, enquanto colaborava em jornais e revistas como publicista e ilustrador.
O olhar do artista plástico está ao serviço do seu cinema, tanto nos "quadros" de grande plasticidade que realizou em O Crime de Aldeia Velha e em O Trigo e o Joio; como no retrato portuense que constitúi A Costureirinha da Sé, filmado a cores e em que os tons de pastel reconfiguram na tela as tonalidades de uma cidade de pedra escurecida e luz tímida.
É o único cineasta português que se aproximou, de facto, do Neorealismo. Não só isto é verdade pelas características de tais produções, de baixo orçamento, e em que os exteriores surgem como cenário principal privilegiado, como é também verdade pelas temáticas abordadas. A luta diária, as vidas difíceis, o desalento e a resignação, estão presentes nestes filmes, não obstante partirem de textos de autores próximos daquela corrente estética, como Leão Penedo, Alves Redol, Fernando Namora e Vergílio Ferreira. Concluíu o filme Cântico Final em 1975, ano em que viria a falecer e que, acaba por ser não autobiográfico, mas a história de alguém que vê a morte aproximar-se e que procura tranquilizar a consciência e o espírito.
Manuel Guimarães encabeça a transição entre a velha tradição do cinema português e o Cinema Novo, com o qual podem ser conotados algumas das suas obras, O Crime de Aldeia Velha à cabeça.
LG

Filmografia (curtas-metragens):
1949 - O Desterrado - Vida e Obra de Soares dos Reis
1956 - As Corridas Internacionais do Porto
1956 - O Porto é Campeão!
1961 - Barcelos
1961 - Porto - Capital do Trabalho
1961 - Vinhos Bi-Seculares
1967 - Artes Gráficas
1967 - O Ensino das Belas-Artes
1967 - O Porto, Escola de Artistas
1967 - Tapetes de Viana do Castelo
1968 - O Ritmo na Vida
1968 - Tráfego e Estiva (primeiro filme português em 70mm)
1969 - António Duarte
1969 - Expressos "Lisboa-Madrid"
1969 - Fernando Namora
1969 - Resende
1971 - Carta a Mestre Dórdio Gomes
1972 - Areia Mar - Mar Areia

Filmografia (longas-metragens):
1951 - Saltimbancos
1952 - Nazaré
1956 - Vidas Sem Rumo
1958 - A Costureirinha da Sé
1964 - O Crime de Aldeia Velha
1965 - O Trigo e o Joio
1972 - Lotação Esgotada
1975 - Cântico Final


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