segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Associativismo, a Música e o Aniversário

Na próxima quarta-feira, 1 de Dezembro, a efeméride é obviamente a Restauração da Independência de Portugal. Por aqui, no blog, somos mais pela Arte do que pelas vicissitudes da Política, seja qual for a época, a menos que as duas vertentes entrem em confronto, normal e infelizmente com tendência para a vitória da segunda.
Nós, que celebramos o Cinema em Tavira todas as quintas-feiras, temos porventura o dever moral de recordar que não estamos sozinhos no associativismo. Tavira é desde há muitas décadas, por iniciativa popular, oligárquica ou filantrópica, palco do nascimento e vida de muitas associações de variadas orientações e competências. A 7ª Arte, do ponto de vista associativo, tem o seu lugar consolidado em Tavira, sendo responsável por (e continua a ter o dever da) educação de públicos.
O blog regozija-se por estar visceralmente ligado ao Cineclube de Tavira, que tem a sorte e o privilégio (mas também o mérito) de programar em dois espaços distintos da cidade. O Cine-Teatro, que esperamos continuar a chamar-se António Pinheiro, tem o nome de um grande e fundamental associativista deste país. Ligado ao Teatro, bem entendido, António Pinheiro é responsável pelo lançamento das bases que permitem que hoje os artistas possam ser sindicalizados e acudidos na má sorte, velhice e incapacidade.
Quanto ao outro espaço, o chamado pátio do Convento do Carmo, não podia estar mais ligado à função social. A Cruz Vermelha dispensa apresentações. Mas a Banda Musical de Tavira – e é a ela que o blog dedica esta entrada – merece e deve ser também lembrada. Não só porque é das mais antigas instituições associativas de Tavira, mas também porque transporta consigo um peso e um papel social de considerável relevo.
Social, pois as pessoas ligadas à instituição vivem-na, respiram-na, a ela se dedicam, sem que disso dependa mais do que o “amor à camisola”. Social, pois as sucessivas saídas da Banda, por terras de todo o Concelho e não só, têm o mérito de acompanhar outros tantos eventos que se querem comemorativos, políticos, religiosos, desportivos, lúdicos, numa palavra, justamente, sociais. Social, pois a formação musical é desde sempre – e poderíamos recuar ao que Platão e Aristóteles nos sécs. VI e V a.C. disseram a esse respeito – tão fundamental como muitas vezes imperceptível na formação social, intelectual e humana dos jovens. Acreditem, eles gravitam intensamente em torno da instituição.
Perdoem-me os respeitosos consócios do Cineclube da nossa cidade. Mas há na Banda Musical de Tavira umas quantas lições a tomar para nós próprios e para a nossa jovem instituição de 11 anos de idade.
O blog vem a terreiro assinalar o aniversário da Banda Musical de Tavira que comemora, no próximo dia 1 de Dezembro, a bonita idade de 85 anos. É efeméride mais que suficiente para recordar, celebrar e felicitar os nossos vizinhos de Verão do Convento do Carmo, com os quais coabitamos paredes-meias durante as nossas Mostras de Cinema.
Infelizmente, o aniversário não se realizará da forma como foi pensada. O dia 1 é dedicado aos associados e praticantes, em ambiente de convívio e confraternização. A festa pública, e por motivos que são imprevistos e contrários ao desejo da Direcção, terá lugar no dia 12, Domingo, com o habitual Festival de Bandas na sua edição nº 26. O lugar será o mais indicado ao associativismo. O Cine-Teatro António Pinheiro, pois claro.
LG

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Fantasma de Polanski

Este fim-de-semana o cinema em Tavira prepara a chegada de um grande senhor. Roman Polanski visita o Cine-Teatro António Pinheiro no Domingo dia 28 de Novembro, espaço onde vamos ver o filme mais recente do cineasta polaco. The Ghost Writer é uma co-produção internacional, como é hábito na obra do realizador, e conta de que forma a biografia de um político britânico, a ser preparada, se consome no seio de uma polémica de política internacional que pode bem vir a ser uma grave crise.
Adivinha-se um paralelismo. Um político inglês autoriza a entrega à CIA de suspeitos de terrorismo, para que sejam submetidos a tortura. Mas fora do argumento, trata-se de um filme montado pelo próprio Polanski, durante o seu recente cativeiro na Suíça. De resto, não assistiu à estreia, mas a sua própria história, polémica quanto baste, dos seus erros até á prisão, está presente nas salas por onde passa The Ghost Writer.
Se quisermos ver nos assassinos da sua antiga companheira Sharon Tate os actos terroristas dos actuais tempos, não é preciso muita imaginação. Se quisermos ver nos erros de um político o desvio comportamental de Polanski, detido depois de muito tempo atrás ter abusado de uma menor, o esforço não será maior.
A própria origem de quem é Roman Polanski leva, porventura, a tecer considerações sobre não só The Ghost Writer, mas também sobre boa parte da sua obra, muitas vezes bizarra. Trata-se de uma criança que consegue fugir do ghetto de Varsóvia, sobrevivendo pelo campo e graças à guarida de várias famílias. Quando após a guerra consegue reencontrar o pai, já transporta consigo uma considerável rotina de idas ao cinema, acabando por fazer o curso na escola de Lodz.
De entre os seus primeiros filmes, as curtas Dois Homens e um Armário (com fama de ser o primeiro filme escolar do mundo a ser estreado em sala), Le Gros et le Maigre e Ssaki, revelam o seu gosto por relações que se revestem de bizarria e humor negro. Depois, a sua primeira longa-metragem entra na História como o primeiro filme polaco do Pós-Guerra a não se referir ao conflito: A Faca na Água.
Repulsa e O Beco levam-no a França e depois ao Reino Unido, e em 1968 chega a Hollywood. Mas o assassinato de Sharon Tate pela seita de Charles Manson e os acontecimentos que nesse episódio têm origem, afastam-no de um percurso convencional, tornando-o um dos realizadores mais internacionais. Tess, co-produção anglo-francesa e O Pianista, produzido entre a França, a Alemanha, o Reino Unido e a Polónia, são os seus filmes mais galardoados.
LG

Filmografia como realizador:
1955-Rower (filme amador)
1957-Usmiech Zebiczny (exercício escolar)
1957-Rozbijemy Zabawe (exercício escolar)
1957-Morderstwo (exercício escolar)
1958-Dwaj Ludzie z Szafa - Dois Homens e um Armário (filme escolar)
1959-Lampa (exercício escolar)
1959-Gdy Spadaja Anioly - Os Anjos Caem do Céu
1961-Le Gros et le Maigre
1962-Ssaki - Mamíferos
1962 -Nóz w Wodzie - A Faca na Água
1964-Les Plus Belles Escroqueries du Monde (sketch "La Rivière de Diamants")
1965-Repulsion - Repulsa
1966-Cul-de-Sac - O Beco
1967-The Fearless Vampire Killers or Pardon Me But Your Teeth Are in My Neck - Por Favor Não Me Mordam o Pescoço
1968-Rosemary's Baby - A Semente do Diabo
1971-Macbeth
1972-What?
1974-Chinatown
1976-Le Locataire - O Inquilino
1979-Tess
1986-Pirates - Piratas
1988-Frantic - Frenético
1992-Bitter Moon - Lua de Mel, Lua de Fel
1994-Death and the Maiden - A Noite da Vingança
1999-The Ninth Gate - A Nona Porta
2002-The Pianist - O Pianista
2007-Chacun son Cinéma (sketch "Cinéma Érotique")
2010-The Ghost Writer

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Cineclube na Estónia

Saudações! (depois do silêncio...)
O blog volta a dar sinal de vida depois de uma longa e involuntária pausa. A vida, essa, têm os nossos amigos e companheiros encontrado todas as quintas-feiras, portas-dentro do Cine-Teatro António Pinheiro, fruto da programação do Cineclube que, ao contrário do que o blog tem feito, trabalha ininterruptamente a exibição de 7ª Arte na nossa estimada Tavira. Mas apesar de tudo, continuamos por cá com vontade de acompanhar - quem sabe complementar - o que se vai passando pelo Cinema, por Tavira, ou pelos dois.
A notícia corre o risco de ser requentada. Porém, não será demais manifestar o nosso contentamento com o facto de termos o Cineclube como representante de Portugal no júri de um festival internacional de cinema. O certame tem lugar em Tallinn, cidade que pela 14ª vez acolhe o Festival Black Nights, de 24 de Novembro a 5 de Dezembro.
Ao André Viane, a caminho da Estónia, o blog deseja boa viagem, óptima estadia e um brilhante evento. Nós Por Cá Todos Bem (cantaria o Sérgio Godinho num filme do Fernando Lopes), pobres cinéfilos tavirenses, ansiosamente à espera das novidades que o André trará do Báltico. Em formato de bobine, claro.
Entretanto, e como diria a caricatura de um outro realizador, "always watch good moves".
LG