quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fome

Amanhã no nosso Cineclube, o filme Hunger vai ser um forte momento de cinema. Falo por aproximação, uma vez que só tive oportunidade de o visionar em DVD; e confesso a "inveja" que tenho dos companheiros cineclubistas que estão em Tavira...

Realizado em 2008 por Steve McQueen (o outro Steve McQueen), é nada menos que a sua primeira obra, premiada em Cannes com a Camera d'Or. E que primeira obra! Os presos políticos do IRA fazem alguns protestos no sentido de melhorar a sua condição de prisioneiros. É baseado em factos reais mais ou menos recentes de que alguns de nós se conseguem lembrar, facto que aguça a profundidade desta obra, tão "parada" ou violenta - física e psicologicamente - quanto pode ser a vida na prisão.

Tendo como figura central o célebre Bobby Sands, o seu activismo e greve de fome são o fio condutor que nos transporta pelos frios, claustrofóbicos, impessoais e escuros espaços dos corredores e celas da prisão; magistralmente interpretado por Michael Fassbender. As mensagens clandestinas, a greve ao corte de cabelo, o protesto dos excrementos, as agressões dos guardas prisionais, tudo está tratado com a agressividade conveniente; ou de forma contemplativa quando deve ser. É inevitável a comparação com a fome e morte de Christopher em Into the Wild e, tal como nessa obra que vimos o Verão passado, convida à reflexão sobre a vida e a sociedade que temos.

Segura realização de McQueen, num equilíbrio entre a humanidade e a violência não sem cair em excessos, mas vincando-os à medida das necessidades, fazendo decididamente mexer com os sentidos dos espectadores no escuro e na grande tela...
LG

quarta-feira, 20 de maio de 2009

In Memorian

Vasco Granja, 1925 - 2009
Recordo o dia. Ao garoto que via animação, ainda a preto e branco, foi dada a oportunidade de conhecer Vasco Granja por razões de trabalho, muitos anos depois, já no séc. XXI. A animação era tema inevitável, mas na admiração pelo Tintim de Hergé e pelos Passageiros do Vento de François Bourgeon recaiu a conversa de quase uma hora - ou seriam cinco minutos?
Tem sido chamado o pai da Banda Desenhada portuguesa, mas o erro é crasso. Vasco Granja foi um dinamizador, um divulgador de BD em Portugal. As revistas "Tintim" e "Spirou" falam por si, anteriores aos sucedâneos que depois surgiram sem a qualidade a que os apreciadores do género se tinham habituado. A sua última vitória foi a publicação em Portugal de Tintim no País dos Sovietes, que muitos anos custou para chegar ao prelo.
Vasco Granja era um cinéfilo. Desde sempre. Foi cineclubista desde os anos '50, pioneiro do movimento em Portugal. Interessa-se por animação e, em 1960 em Annecy, está presente na primeira edição do conceituado festival de cinema do género. Mas é na qualidade de divulgador que uma geração inteira - a minha, por sinal - e para além dela, que Vasco Granja é conhecido. Mais: é figura incontornável da formação de gostos no campo da animação. Durante 16 anos apresentou Cinema de Animação na televisão pública portuguesa, com mais de mil programas.
O blog presta a sua homenagem ao homem, ao cinéfilo, ao divulgador. E ao cineclubista. Claro.
Obrigado Vasco Granja.
LG