sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Avatar e os Globos de Ouro

Em Hollywood, a Associação de Imprensa Estrangeira atribui anualmente os seus prémios. Este ano, a surpresa (ou talvez não) tem um nome informático - Avatar.
Nome e não só. Trata-se de uma revolução tecnológica operada por James Cameron, combinando imagens reais com imagens virtuais como até agora nunca se vira, nem era possível. Além disso, a gravação em Digital3D permite duas coisas: permite uma enorme economia de meios técnicos e financeiros na produção, e permite a experiência final das 3 Dimensões que, neste filme, resulta impressionante.
Mas, indiscutível espectáculo visual de movimento e cor à parte, Avatar é mais do que isso. Tende a ser uma reflexão sobre os benefícios e malefícios de uma sociedade cada vez mais informatizada, pelo que se poderia falar da experiência de Avatar como um paradoxo, preso entre qualidades e defeitos e a sua própria responsabilidade enquanto produto. Reflecte sobre uma sociedade que aposta na chamada "competividade de mercado", sem olhar para trás como forma de sobrevivência à sua própria voragem. Reflecte também sobre a ecologia e o estado a que ela chegou graças a todos nós, peões e obreiros da mesma sociedade.
E talvez, para além do colossal resultado visual, de bilheteira e de sucesso, sejam esses os elementos por trás do êxito em toda a linha que o filme continua a demonstrar, com temas que não estão de forma nenhuma longe de nós. De resto, reflectem-se agora nos Globos de Ouro que acabam de premiar o filme e o seu realizador.
A acompanhar Avatar, Sandra Bullock (The Blind Date)venceu como actriz dramática, enquanto Meryl Streep (Julie & Julia) foi a vencedora sua congénere na categoria Musical e Comédia, além de colecionar a sua nomeação nº 25... Os cavalheiros vencedores, e pela mesma ordem, foram Jeff Bridges (Crazy Heart) e Robert Downey Jr. (Sherlock Holmes), actor que muito nos apraz ver premiado.
Diz a tradição que os Globos de Ouro são indicadores do que se passa nos prémios da Academia. Aguarde-se então pelas nomeações, com anúncio marcado para muito breve.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Cinema vai ao Teatro

Com a chegada de 2010 apetece falar do Inverno, que tem sido bem rigoroso um pouco por toda a parte. O blog dá conta de uma sugestão que pode contribuir para que se aqueça um pouco o ambiente. Admitimos que tem sido uma falha do blog, o que procuramos agora corrigir com novidades sobre os nossos vizinhos do teatro. Assim, o AL-MaSRAH apresentou o seu programa de Inverno, justamente chamado "Teatro no Inverno", que teve início ontem, 4ª feira.
O programa contém a vertente de espectáculos para miúdos e graúdos, mas também compreende acções de formação e, sobretudo, duas tardes de conversas sobre arte, cultura e a sua divulgação, o que se poderá revelar uma medida significativa para quem se interessa pela coisa cultural. Arte e educação e planeamento cultural para o Algarve são os temas.
O AL-MaSRAH, teatro, não esquece assim as outras vertentes artísticas. Aliás, com a exibição de duas peças audiovisuais, procura fazer a ponte entre Teatro e Cinema, como muito bem se exige numa sociedade globalizante e em que as formas de arte se vão fundindo e complementando cada vez mais, depois da pedra de toque dada há já tanto tempo pelo realizador - e então encenador - Sergei Eisenstein.
Assim, a 6 de fevereiro, o documentário Metamorfoses de Bruno Cabral, dá conta da actividade do colectivo de Lisboa Crinabel Teatro. Este mês, dia 16 (próximo Sábado), O Regresso (The Homecoming) de Peter Hall, adapta a obra homónima do dramaturgo e encenador Harold Pinter, expoente máximo do teatro contemporâneo norte-americano.
Oportunidade para ver em Tavira a projecção de um grande filme, e também como funciona a escrita para cinema com base em texto de teatro, através desta proposta.
Parabéns ao AL-MaSRAH. Desta vez, e só desta vez, teremos que nos despedir com os desejos de... Bom Teatro!
LG

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Andreotti no Cinema

A expresão "Il Divo" remete imediatamente para algo divino em torno de uma individualidade. Na Antiga Roma, por exemplo, Júlio César tinha entre outros epítetos, o de Divus Iulius, Divino Júlio, que em italiano se diz Divo Giulio.
É justamente de um Giulio que se trata: Giulio Andreotti, a mais marcante personalidade política italiana desde o Pós-Guerra. De enorme carisma, é um homem aparentemente tranquilo, a sua vida privada não transparece para o exterior, politicamente activo mas na sombra.
É desta figura que trata o filme Il Divo de Paolo Sorrentino, que tem na interpretação de Toni Servillo a sua grande virtude, interpretando um homem também conhecido por não exteriorizar qualquer emoção. É famoso o caso do sequestro e assassinato de Aldo Moro, seu companheiro de partido.
Dadas as situações polémicas em torno de suspeitas ligações a organizações menos honestas e manobras políticas de Andreotti, muito se tem falado no âmbito desta produção em The Godfather de Coppola, bem como dos biopics de figuras políticas realizados por Oliver Stone. Mas Servillo, ao contrário de Marlon Brando ou Anthony Hopkins, consegue não representar mas tornar-se Giulio Andreotti , sustentado pela câmara de Sorrentino que lhe transmite uma aura de Herói Antigo de tragédia grega, como se Servillo fosse o lado divinizante de Andreotti, apesar de não se dirigir nunca a Deus. Segundo o próprio político, "os padres votam, Deus não."
Divino ou não, Andreotti como César, Giulio como ambos, as referências de Sorrentino atravessam o filme, hoje, altura em que a política em Itália também se faz de escândalos e ligações pouco claras. Só que Berlusconi não é Giulio, e muito menos é Divo...
Para comparar e pensar, na sessão de amanhã do Cineclube.
LG

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Post Scriptum

Eric Rohmer confunde-se com a história do cinema francês e europeu. Exímio narrador cinematográfico, aliava a narrativa por imagens a uma construção de diálogos magnífica. Arauto da Nouvelle Vague com Jean-Luc Godard, François Truffaut e Claude Chabrol, deixou a realidade ontem, aos 89 anos. Ficam em seu lugar os seus textos e os seus filmes, lugares de ficção que reflectem sobre a vida.
A vida é, justamente e paradoxalmente, a palavra que melhor define os seus filmes. A vida e as suas emoções postas em película, para além do próprio cinema. Disse Rohmer no início dos anos 80 a propósito de uma certa tendência europeia: "O que é que me incomoda nestes filmes? É quando falam de cinema. Actualmente acho que o cinema está demasiado debruçado sobre si próprio, a ponto de já não se mostrarem senão pessoas de cinema. Acho que há aí um empobrecimento em inspiração que me parece bastante grave, uma espécie de esclerose do cinema." Esta declaração vem a propósito, feita que foi ao Cahiers du Cinéma (nº 346, Abril de 1983).
Lugar primeiro de reflexão sobre cinema em França, a célebre revista contou com a colaboração do próprio Rohmer, tal como com a dos seus pares. Laboratório de escrita e "escola" de cineastas que ali se juntaram, foi "lugar de confluência de paixões diversas em relação ao cinema", originando a Nouvelle Vague e despertando vocações e cinematografias em outros países. A geração do Cinema Novo Alemão ou o Cinema Novo Português são disso exemplos.
Eric Rohmer começou a realizar em 1950 com a curta-metragem Journal d'un Scélérat, filmando a primeira longa-metragem em 1959 (Le Signe du Lion). A sua última obra data de 2007 e recebeu o título Les Amours d'Astrée et de Céladon.
LG

Filmografia em Cinema:
Journal d'un Scélérat, 1950
Présentation ou Charlotte et Son Steak, 1951
Les Petites Filles Modèles, 1952 (incompleto, co-realizado com Pierre Guilbaud)
Bérénice, 1954
La Sonate à Kreutzer, 1956
Charlotte et Véronique ou Tous Les Garçons s'Appellent Patrick, 1957 (Argumento e diálogos. Realização de Jean-Luc Godard)
Véronique et son Cancre, 1958
Le Signe du Lion, 1959
Six Contes Moraux I: La Boulangère de Monceau, 1962
Six Contes Moraux II: La Carrière de Suzanne, 1963
Nadja à Paris, 1964
Place de l'Étoile, 1965 (sketch de Paris Vu Par... Os outros sketches são realizados por Claude Chabrol, Jean Douchet, Jean-Luc Godard, Jean-Daniel Pollet e Jean Rouch)
Une Étudiante d'Aujourd'Hui, 1966
Six Contes Moraux IV: La Colectionneuse, 1967
Fermière à Montfaucon, 1968
Six Contes Moraux III: Ma Nuit Chez Maud, 1969
Six Contes Moraux V: Le Genou de Claire, 1970
Six Contes Moraux VI: LÁmour l'Après-Midi, 1972
Die Marquise von O..., 1976
Perceval le Galois, 1978
La Femme de l'Aviateur, 1981
Le Beau Mariage, 1982
Pauline à la Plage, 1983
Les Nuits de la Pleine Lune, 1984
Le Rayon Vert, 1986
4 Aventures de Reinette et Mirabelle, 1987
L'Ami de Mon Ami, 1987
Les Jeux de Société, 1989
Conte de Printemps, 1990
Conte d'Hiver, 1992
L'Arbre, le Maire et la Médiatèque, 1993
Les Rendez-Vous de Paris, 1995
Conte d'Été, 1996
Conte d'Automne, 1998
L'Anglaise et le Duc, 2001
Triple Agent, 2004
Le Canapé Rouge, 2005
Les Amours d'Astrée et de Céladon, 2007