domingo, 12 de dezembro de 2010

O Pilar de José

11 de Dezembro de 2010. A óbvia efeméride é o aniversário do decano do Cinema Português, o "Mestre", como muitos o chamam. Manoel de Oliveira cumpriu 102 primaveras e continua a trabalhar e a desmultiplicar-se em iniciativas de acordo com a sua agenda. Todos os que não gostam da sua obra, simplesmente odeiam-na e nunca viram nada depois do Aniki-Bóbó que data do longínquo 1942.
O blog dedicou a tarde-noite a homenagear outro fenómeno e embaixador da Cultura Portuguesa, infelizmente já desaparecido. Em José e Pilar Miguel Gonçalves Mendes olha de perto, não a vida privada do casal como Saramago temia vir a acontecer, mas sim a harmonia existente entre os dois, o ritmo de vida levado por quem não quer parar por não ter tempo para desperdiçar, a vida de duas pessoas que se entrosaram na vida como uma equipa perfeita.
O documentário, construído cronologicamente ao sabor da agenda de compromissos de José Saramago e Pilar del Rio tem, tal como a agenda, momentos de ritmo intenso que é compensado pelas pausas de respiração. Estas, a que José empresta os seus considerandos, logo são quebradas pela energia da grande figura do documentário. Se Saramago tende a ser o protagonista, a "actriz" principal é, sem dúvida nenhuma, Pilar del Rio. Miguel Gonçalves Mendes percebeu e sentiu isso mesmo. Nos "longos quatro anos" em que acompanhou o casal, notório é o pulsar de vontade intensa de produzir de uma mulher que "tanto tardou a chegar".
A Viagem do Elefante, penúltimo romance de Saramago, é também a viagem que fazemos na sala de cinema, é também a viagem de Gonçalves Mendes, é também a dura viagem do próprio Saramago que quase não o acabou e dedica - como todos - a Pilar, mas desta vez porque "não deixou que eu morresse".
Miguel Gonçalves Mendes está de parabéns. Foi à procura de um José e de uma Pilar que conseguiu encontrar. Encontrou a docilidade, a energia, o humor, a simpatia, a inteligência. E são estas as coisas que devemos todos ir ver em José e Pilar. Quem sabe, é talvez o meio de nos reconciliarmos com alguém que soube dizer coisas, que teve a coragem de as dizer, quando poucos eram os que conseguiam vê-las em nosso redor.
José Saramago, como Manoel de Oliveira, ou é amado ou é odiado. E os que o odeiam, nada leram, nada conhecem. Insultou a Igreja e abandonou Portugal, é tudo o que julgam saber. Falta lerem os seus livros. Falta conhecerem como são as coisas.
O Cinema - e neste caso o Vídeo - permite-o: Comecem por ver José e Pilar de Miguel Gonçalves Mendes.
Um abraço aos três.
LG

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