quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Chanel na Passadeira Vermelha

Passa uma semana desde o anúncio das nomeações para os Óscares deste ano. Sem surpresas, Avatar lidera a lista, candidato a nove estatuetas onde, numa produção deste teor e como é costume, falham as categorias de escrita de argumento e representação.
Em compensação, The Hurt Locker, da ex-mulher de James Cameron Kathryn Bigelow, surpreendentemente com o mesmo número de nomeações, consegue candidaturas para Argumento Original e para Actor Principal. O mesmo acontece ainda com o filme de Quentin Tarantino Inglorious Bastards, com oito nomeações e a promessa de algumas surpresas… achamos nós.
Grandes actores, novos e menos novos, estão na corrida para subir ao palco do Kodak Theatre e expressar o seu agradecimento: Meryl Streep, Morgan Freeman, Jeff Bridges, Christopher Plummer, Stanley Tucci, Helen Mirren, para dar alguns exemplos. As categorias técnicas não devem oferecer dúvidas a Avatar e, no campo da animação, a tecnologia é provavelmente em sentido contrário. Isto é, The Princess and the Frog, que marca a reabertura dos estúdios de animação tradicional da Disney “tem de ser” justificado…
Mais novidades, na madrugada de 7 para 8 de Março, com apresentação de Steve Martin e Alec Baldwin, depois do interminável desfile de vedetas e seus tailleurs, acessórios, jóias, bijuteria, na passadeira vermelha que dá acesso ao Kodak Theatre, local de exibição de figurinos originais de costureiros conceituados.
Falando de moda, Coco Chanel aparece esta semana na berlinda. Nomeado justamente para o Óscar do Guarda-Roupa, surge o filme de Anne Fontaine Coco Avant Chanel. Mas, e sobretudo, esta é a semana em que o Cineclube exibe Coco Chanel & Igor Stravinsky, realizado por Jan Kounen.
A modernidade está ao rubro nos anos 10 do século XX, pouco antes de rebentar a 1ª Guerra Mundial. Chanel e Stravinsky, ambos artistas, procuram a quebra de barreiras nas suas áreas – moda e música. Coco Chanel quer a democratização da moda feminina e Igor Stravinsky quer uma redefinição dos cânones musicais. O primeiro contacto entre os dois, sem que se conheçam, dá-se quando Coco assiste à estreia de A Sagração da Primavera de Stravinsky, peça musical criticada e incompreendida na época, deixando o compositor inconsolável e a estilista em estado de motivação criativa. É já depois da guerra que os dois se conhecem, estando Stravinsky exilado em Paris na consequência da Revolução Russa, e sendo Chanel uma criadora de sucesso, desenvolvendo-se uma grande atracção entre os dois.
Kounen filma a emancipação feminina, a superior ligação da Rússia às artes e ao ensino, tendo como pano de fundo uma época de profundas mudanças na sociedade ocidental. Em paralelo, a estabilidade familiar é vista em contraponto com a vida pensada e movida ao momento e sem barreiras. Um filme de paixões, personificadas por Anna Mouglalis e Mads Mikkelsen, que dão corpo aos dois famosos criadores.
Antecedendo a Primavera que teima em não chegar, o Cineclube oferece moda, música, inspiração, vida. Vejamos pois, como os figurinos de Chanel se ligam, segundo Jan Kounen, à música de Stravinsky e, sobretudo, A Sagração da Primavera. E como o Cineclube é de Tavira, é quase obrigatório focar que este é um tema musical ligado a Tavira pelo cinema. Para quem já viu Almadraba Atuneira de António Campos, sabe como o realizador português cruzou Stravinsky com a Primavera anunciada pelos pescadores de atum que, ano após ano, tinham a alegria de participar na celebração de mais um ritual…
LG

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