terça-feira, 19 de agosto de 2014

100 Anos de Charlot

Ao saborear as páginas de My Autobiography de Charles Chaplin, ocorreu-nos que se assinala este ano o primeiro século da sua chegada ao cinema.
Alvo de anterior entrada do blog, de 7/9/2009, não nos vamos repetir com o estafado arrolamento da sua filmografia, mas não podemos deixar de assinalar a efeméride que parece ter passado demasiado discreta.
Há 100 anos atrás (19 de Agosto de 1914), Chaplin trabalhava em The Masquerader, uma das curtas-metragens que realizou e protagonizou para a Keystone Company, antes de se fazer argumentista, produtor e mais tarde compositor dos seus filmes. Para trás ficara a primeira aparição da personagem que o mundo mais tarde conheceria como Charlot, em Kid Auto Races at Venice, estreado a 7 de Fevrereiro do mesmo ano.
Mas o que é verdadeiramente de assinalar, é que um século depois, Charlot continua a fazer rir e a comover multidões, graças aos gags, mas também graças ao egoísmo, sentido crítico, generosidade e humanidade com que Chaplin foi trabalhando a personagem.
Eis o que diz Chaplin da sua criação:

"Eu não tinha a menor ideia da maquilhagem que havia de fazer. O meu traje de repórter [de Making a Living, anterior filme] não me agradava, mas, no caminho para o guarda-roupa, pensei em pôr umas calças muito largas, umas botas muito grandes, bengala e chapéu de coco. Queria que tudo estivesse em contradição: as calças largas e o casaco apertado, o chapéu muito pequeno e as botas enormes. Não sabia se havia de parecer velho ou novo, mas lembrando-me de que Sennett [realizador e produtor] supusera que eu era mais velho, pus um bigodinho que, discorria eu, me daria mais alguns anos, sem esconder a expressão.
Não fazia ideia do tipo de personagem que ia representar. Mas, a partir do momento em que me vi vestido, o fato e a maquilhagem fizeram-me sentir o que ele era. Comecei a descobri-lo e, ao chegar ao estúdio ele estava criado inteiramente. Quando me apresentei diante de Sennett, sentia-me na pele da personagem, e avançava empertigado, fazendo molinetes com a bengala. E os gags e as ideias cómicas acudiam-me em tropel."
in Chaplin, Charles, Autobiografia, trad. António Lopes Ribeiro, Editora Ulisseia, Lisboa, 1965.
LG


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