Passaram quase nove anos desde que a autarquia adquiriu o Cine-Teatro António Pinheiro a particulares, estando anunciada a sua reconversão num espaço mais moderno e apto às práticas das artes do espectáculo, segundo um projecto do arquitecto Júlio Quaresma. Esperamos todos que tal empreendimento melhore as condições do espaço de Tavira por excelência para cinema e teatro, local de culto, de romaria, de convívio e de memórias.
A propósito de memórias e enquanto não chega a data em que vemos desaparecer o actual edifício, propomos a leitura de um texto em que tropeçámos nas lides arquivísticas. Trata-se do artigo que, no jornal tavirense Provincia do Algarve de 28 de Outubro de 1917, nos dá conta da inauguração do antigo Teatro Popular. Acontecimento de extrema importância na cena cultural e social de Tavira, veio substituir o decadente Teatro Tavirense, já encerrado por falta de condições, situado em local menos central da cidade na realidade moderna e empreendedora da época.
O tom de enaltecimento é compreensível, ao fim de duas noites de festa (sim, a inauguração teve duas noites de celebração) que, com a participação de três filhos da terra das lides do espectáculo, foi abrilhantada a um nível superior à actividade artística local.
É nesta altura que se dá o ponto de partida para a exibição apropriada de cinema que nesta sala se faz desde o início, dois dias depois da inauguração. Até então, a projecção de cinema ocorria em barracões de feira montados para o efeito, havendo referências a dois destes espaços na cidade.
Tavira acompanhava assim, sem muita distância, o fenómeno social e cultural que internacionalmente transformava o cinema, justamente de atracção de feira em 7ª Arte, assim baptizado pelo teórico Ricciotto Canudo seis anos antes.
Assim, também neste aspecto, a então direcção do Teatro Popular esteve, consciente ou inconscientemente, de Parabéns!
Eis o artigo, reproduzido com a grafia original.
LG
"Foi revestida do maior brilhantismo a inauguração do Teatro Popular, realisada nas noites de 24 e 25 do corrente.
A nosso ver, ultrapassou a expectativa dos assistentes, pois no seu conjunto essa festa foi deveras atraente e cativante, deixando no espirito de todos a convicção bem patente de que em Tavira se poderá fazer alguma coisa de util e de agradavel, com a boa vontade de todos.
Foram dois os espectaculos, havendo sempre um extraordinario entusiasmo e prazer de se ouvir e apreciar essas notabilidades artisticas, tão conhecidas no nosso país.
A festa de inauguração do Teatro Popular marcou no nosso meio artístico uma página brilhante que jámais será esquecida.
Com isso devem sentir-se orgulhosos os cavalheiros que compõem a direcção do Teatro porque abriu a série dos espectaculos com um brilho desusado no nosso meio.
A récita da noite de 24 começou com uma poesia alusiva ao acto feita pelo nosso colaborador sr. Carlos Trindade e que noutro lugar reproduzimos, recitada pelo professor da Escola de Arte de Representar, o nosso patrício sr. António Pinheiro.
A seguir foi a representação pelo grupo do Teatro Nacional, da comédia em 3 actos Divorciemo-nos. Aos espectadores agradou imenso a afamada companhia, e aplaudiram os laureados artistas, especialmente Palmira Torres, Pato Moniz e Henrique de Albuquerque com prolongadas e entusiásticas salvas de palmas.
Na segunda noite, 25, subiu à scena o conhecido drama em 4 actos João José, sendo igualmente apreciado, destacando-se além de Palmira Torres e Pato Moniz o nosso patrício António Pinheiro.
Os actores Augusto de Melo, Joaquim Roda e Henrique de Albuquerque recitaram vários monólogos e poesias, recebendo fartos aplausos.
O professor sr. J. Henrique dos Santos executou primorosamente solos de violoncelo, recebendo aclamações entusiásticas.
O professor sr. Pavia de Magalhães executou solos de violino obtendo mais um triunfo à sua gloriosa carreira musical. O sr. Pavia de Magalhães que afirma em todas as suas composições o seu muito saber e as suas excelentes qualidades de músico, é muito estimado na sua terra natal.
A sra. D. Branca Pavia de Magalhães, extremosa esposa do sr. Pavia de Magalhães, que foi a nosso ver a rainha da festa, tocou vários trechos ao piano com acompanhamento do sexteto.
O professor sr. António Pinheiro recitou várias poesias recebendo flores e aplausos.
O cantor lírico sr. Alfredo Mascarenhas cantou solos de barítono: na primeira noite o Prólogo da Ópera Palhaços, e na segunda noite uma romanza e um trecho da Opera Barbeiro de Sevilha. O sr. Mascarenhas é um ilustre algarvio e reputado artista e inútil e pleonástico será encarecer os dotes profissionais do laureado cantor que o nosso público justamente distinguiu e ovacionou.
O maestro sr. António Rebelo Neves teve com justiça chamadas especiais colhendo fortes e merecidos aplausos.
Enfim, os dois espectáculos foram esplendidos, duas verdadeiras noites de arte, recebendo os seus interpretantes fartas e quentes palmas, bouquets de flôres e numerosas chamadas.
Foram duas belas noites que jámais se apagarão da memória de quem a elas teve o prazer de assistir, pois deixaram gratas e saudosas recordações.
No final do segundo espectaculo o sr. António Pinheiro, em nome de todos os artistas, agradeceu o acolhimento dispensado à companhia e ao belo sexteto, declarando que este grupo se oferecia para abrilhantar a inauguração da época cinematográfica bem como a valiosa cooperação do cantor lírico sr. Alfredo Mascarenhas, declaração que foi saudada com uma prolongada salva de palmas.
O publico ficou o melhor impressionado possível com estes dois espectaculos não regateando elogios a todos os artistas.
De Faro, Olhão, Vila Rial, Loulé e Albufeira veio grande numero de pessoas assistir aos espectaculos.
É digna de todos os elogios a direcção do Teatro srs. Manuel Pires Faleiro, António do Nascimento Teixeira, João Pedro Maldonado e Eduardo Felix Franco, que nos proporcionou duas noites de arte.
Agradecemos à ilustre direcção a amabilidade da oferta dos dois bilhetes para estes espectaculos.
A inauguração da época cinematografica começou ontem, sabado, com o emocionante drama de Erneste Zaconni O emigrante, da série de Ouro.
Hoje há nova sessão cinematografica com a esplendida fita em 4 partes também da série de ouro, intitulada Caím."
A propósito de memórias e enquanto não chega a data em que vemos desaparecer o actual edifício, propomos a leitura de um texto em que tropeçámos nas lides arquivísticas. Trata-se do artigo que, no jornal tavirense Provincia do Algarve de 28 de Outubro de 1917, nos dá conta da inauguração do antigo Teatro Popular. Acontecimento de extrema importância na cena cultural e social de Tavira, veio substituir o decadente Teatro Tavirense, já encerrado por falta de condições, situado em local menos central da cidade na realidade moderna e empreendedora da época.
O tom de enaltecimento é compreensível, ao fim de duas noites de festa (sim, a inauguração teve duas noites de celebração) que, com a participação de três filhos da terra das lides do espectáculo, foi abrilhantada a um nível superior à actividade artística local.
É nesta altura que se dá o ponto de partida para a exibição apropriada de cinema que nesta sala se faz desde o início, dois dias depois da inauguração. Até então, a projecção de cinema ocorria em barracões de feira montados para o efeito, havendo referências a dois destes espaços na cidade.
Tavira acompanhava assim, sem muita distância, o fenómeno social e cultural que internacionalmente transformava o cinema, justamente de atracção de feira em 7ª Arte, assim baptizado pelo teórico Ricciotto Canudo seis anos antes.
Assim, também neste aspecto, a então direcção do Teatro Popular esteve, consciente ou inconscientemente, de Parabéns!
Eis o artigo, reproduzido com a grafia original.
LG
"Foi revestida do maior brilhantismo a inauguração do Teatro Popular, realisada nas noites de 24 e 25 do corrente.
A nosso ver, ultrapassou a expectativa dos assistentes, pois no seu conjunto essa festa foi deveras atraente e cativante, deixando no espirito de todos a convicção bem patente de que em Tavira se poderá fazer alguma coisa de util e de agradavel, com a boa vontade de todos.
Foram dois os espectaculos, havendo sempre um extraordinario entusiasmo e prazer de se ouvir e apreciar essas notabilidades artisticas, tão conhecidas no nosso país.
A festa de inauguração do Teatro Popular marcou no nosso meio artístico uma página brilhante que jámais será esquecida.
Com isso devem sentir-se orgulhosos os cavalheiros que compõem a direcção do Teatro porque abriu a série dos espectaculos com um brilho desusado no nosso meio.
A récita da noite de 24 começou com uma poesia alusiva ao acto feita pelo nosso colaborador sr. Carlos Trindade e que noutro lugar reproduzimos, recitada pelo professor da Escola de Arte de Representar, o nosso patrício sr. António Pinheiro.
A seguir foi a representação pelo grupo do Teatro Nacional, da comédia em 3 actos Divorciemo-nos. Aos espectadores agradou imenso a afamada companhia, e aplaudiram os laureados artistas, especialmente Palmira Torres, Pato Moniz e Henrique de Albuquerque com prolongadas e entusiásticas salvas de palmas.
Na segunda noite, 25, subiu à scena o conhecido drama em 4 actos João José, sendo igualmente apreciado, destacando-se além de Palmira Torres e Pato Moniz o nosso patrício António Pinheiro.
Os actores Augusto de Melo, Joaquim Roda e Henrique de Albuquerque recitaram vários monólogos e poesias, recebendo fartos aplausos.
O professor sr. J. Henrique dos Santos executou primorosamente solos de violoncelo, recebendo aclamações entusiásticas.
O professor sr. Pavia de Magalhães executou solos de violino obtendo mais um triunfo à sua gloriosa carreira musical. O sr. Pavia de Magalhães que afirma em todas as suas composições o seu muito saber e as suas excelentes qualidades de músico, é muito estimado na sua terra natal.
A sra. D. Branca Pavia de Magalhães, extremosa esposa do sr. Pavia de Magalhães, que foi a nosso ver a rainha da festa, tocou vários trechos ao piano com acompanhamento do sexteto.
O professor sr. António Pinheiro recitou várias poesias recebendo flores e aplausos.
O cantor lírico sr. Alfredo Mascarenhas cantou solos de barítono: na primeira noite o Prólogo da Ópera Palhaços, e na segunda noite uma romanza e um trecho da Opera Barbeiro de Sevilha. O sr. Mascarenhas é um ilustre algarvio e reputado artista e inútil e pleonástico será encarecer os dotes profissionais do laureado cantor que o nosso público justamente distinguiu e ovacionou.
O maestro sr. António Rebelo Neves teve com justiça chamadas especiais colhendo fortes e merecidos aplausos.
Enfim, os dois espectáculos foram esplendidos, duas verdadeiras noites de arte, recebendo os seus interpretantes fartas e quentes palmas, bouquets de flôres e numerosas chamadas.
Foram duas belas noites que jámais se apagarão da memória de quem a elas teve o prazer de assistir, pois deixaram gratas e saudosas recordações.
No final do segundo espectaculo o sr. António Pinheiro, em nome de todos os artistas, agradeceu o acolhimento dispensado à companhia e ao belo sexteto, declarando que este grupo se oferecia para abrilhantar a inauguração da época cinematográfica bem como a valiosa cooperação do cantor lírico sr. Alfredo Mascarenhas, declaração que foi saudada com uma prolongada salva de palmas.
O publico ficou o melhor impressionado possível com estes dois espectaculos não regateando elogios a todos os artistas.
De Faro, Olhão, Vila Rial, Loulé e Albufeira veio grande numero de pessoas assistir aos espectaculos.
É digna de todos os elogios a direcção do Teatro srs. Manuel Pires Faleiro, António do Nascimento Teixeira, João Pedro Maldonado e Eduardo Felix Franco, que nos proporcionou duas noites de arte.
Agradecemos à ilustre direcção a amabilidade da oferta dos dois bilhetes para estes espectaculos.
A inauguração da época cinematografica começou ontem, sabado, com o emocionante drama de Erneste Zaconni O emigrante, da série de Ouro.
Hoje há nova sessão cinematografica com a esplendida fita em 4 partes também da série de ouro, intitulada Caím."
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