Não se trata de nenhuma espécie de manifesto de carácter machista. Era o nome de uma "sitcom" dos anos 80, da qual não encontrei o título original, recuperado pelo blog para o que de facto interessa, isto é, a sessão do Cineclube desta semana.
Claro que Pranzo di Ferragosto, 2008, não é nenhuma "sitcom", mas se tomarmos pouca atenção ao tema que aborda, talvez achemos divertido. Mais profundamente, encontramos neste filme, a estreia na realização do actor e argumentista Gianni di Gregorio, todo um processo autoreflexivo.
A 15 de Agosto celebra-se na Itália o Ferragosto, tradicionalmente um feriado religioso. Giovanni, ao contrário dos seus amigos e conhecidos, não vai passear nesse dia. É um "bon vivant", não trabalha, e vive com a sua idosa mãe, sobrevivente de uma ultrapassada aristocracia. A sua débil situação financeira obriga-o a tomar conta da mãe do senhorio, atrás da qual surgem mais duas senhoras. Assim, Giovanni passa o Ferragosto na companhia de quatro idosas.
O que tem o filme de particular? Em primeiro lugar, o facto de ser um trabalho de auto-reflexão em que o autor se representa a si próprio. É a catarse de uma fase da vida em que durante 10 anos viveu com e para assistir às necessidades da mãe, com cerca de 90 anos.
Em segundo lugar, são senhoras conhecidas de di Gregorio e não actrizes. Há uma tia do realizador, uma amiga de família e duas escolhidas de cerca de 100 entrevistadas em lares de acolhimento de idosos.
Em terceiro lugar, a acção decorre no exacto apartamento onde di Gregorio viveu com a sua mãe, recurso como os demais, de um filme de baixo orçamento.
É portanto um projecto de cunho extraordinariamente pessoal. Trata-se de um homem que abdica da sua vida pessoal, de constituir famíla, da sua independência, da sua vida social, em benefício do bem-estar materno que, em Itália e como é sabido, sobretudo com filhos únicos, é figura de grande possessividade e exigência.
Um filme em que se reflecte sobre a terceira idade, as suas carências, pequenas alegrias e expectativas, saudades e muita sabedoria com muito para ensinar.
E foi assim durante a rodagem, pois di Gregorio reconheceu que elas "inventaram o filme" e "inventaram coisas mais bonitas do que o que estava escrito". A necessidade de interacção entre elas foi o mais enriquecedor, pois chegavam ao apartamento sem saber o que fazer e divertiam-se. Conviviam e ensinavam.
Apetece convocar outro filme, americano desta vez, que reflectia sobre a solidão na terceira idade, filme em que Jack Nicholson compõe, com a sua versatilidade nem sempre reconhecida, a sua personagem mais fragilizada de sempre. Essa prova de maturidade de um realizador de 40 anos, Alexander Payne, chama-se About Schmidt. Na viuvez e na solidão, Schmidt tem que contar com a assistência da filha e confrontar-se com a vida pessoal desta.
Mas ao contrário de Giovanni, que quer ficar de consciência tranquila ao ver a mãe partir, Schmidt percebe que partirá com a gratidão de ter ajudado uma criança a crescer com melhores condições do que as que o Uganda muitas vezes permite.
Infância e terceira idade próximas, a mãe de Giovanni como Ndugu, duas personagens que, de idades opostas, permitem pontos de aprendizagem sobre a vida, de acordo com a sua perspectiva.
Dois filmes obrigatórios, mas em relação a Pranzo di Ferragosto, a oportunidade é esta quinta-feira, no nosso Cineclube.
LG
Claro que Pranzo di Ferragosto, 2008, não é nenhuma "sitcom", mas se tomarmos pouca atenção ao tema que aborda, talvez achemos divertido. Mais profundamente, encontramos neste filme, a estreia na realização do actor e argumentista Gianni di Gregorio, todo um processo autoreflexivo.
A 15 de Agosto celebra-se na Itália o Ferragosto, tradicionalmente um feriado religioso. Giovanni, ao contrário dos seus amigos e conhecidos, não vai passear nesse dia. É um "bon vivant", não trabalha, e vive com a sua idosa mãe, sobrevivente de uma ultrapassada aristocracia. A sua débil situação financeira obriga-o a tomar conta da mãe do senhorio, atrás da qual surgem mais duas senhoras. Assim, Giovanni passa o Ferragosto na companhia de quatro idosas.
O que tem o filme de particular? Em primeiro lugar, o facto de ser um trabalho de auto-reflexão em que o autor se representa a si próprio. É a catarse de uma fase da vida em que durante 10 anos viveu com e para assistir às necessidades da mãe, com cerca de 90 anos.
Em segundo lugar, são senhoras conhecidas de di Gregorio e não actrizes. Há uma tia do realizador, uma amiga de família e duas escolhidas de cerca de 100 entrevistadas em lares de acolhimento de idosos.
Em terceiro lugar, a acção decorre no exacto apartamento onde di Gregorio viveu com a sua mãe, recurso como os demais, de um filme de baixo orçamento.
É portanto um projecto de cunho extraordinariamente pessoal. Trata-se de um homem que abdica da sua vida pessoal, de constituir famíla, da sua independência, da sua vida social, em benefício do bem-estar materno que, em Itália e como é sabido, sobretudo com filhos únicos, é figura de grande possessividade e exigência.
Um filme em que se reflecte sobre a terceira idade, as suas carências, pequenas alegrias e expectativas, saudades e muita sabedoria com muito para ensinar.
E foi assim durante a rodagem, pois di Gregorio reconheceu que elas "inventaram o filme" e "inventaram coisas mais bonitas do que o que estava escrito". A necessidade de interacção entre elas foi o mais enriquecedor, pois chegavam ao apartamento sem saber o que fazer e divertiam-se. Conviviam e ensinavam.
Apetece convocar outro filme, americano desta vez, que reflectia sobre a solidão na terceira idade, filme em que Jack Nicholson compõe, com a sua versatilidade nem sempre reconhecida, a sua personagem mais fragilizada de sempre. Essa prova de maturidade de um realizador de 40 anos, Alexander Payne, chama-se About Schmidt. Na viuvez e na solidão, Schmidt tem que contar com a assistência da filha e confrontar-se com a vida pessoal desta.
Mas ao contrário de Giovanni, que quer ficar de consciência tranquila ao ver a mãe partir, Schmidt percebe que partirá com a gratidão de ter ajudado uma criança a crescer com melhores condições do que as que o Uganda muitas vezes permite.
Infância e terceira idade próximas, a mãe de Giovanni como Ndugu, duas personagens que, de idades opostas, permitem pontos de aprendizagem sobre a vida, de acordo com a sua perspectiva.
Dois filmes obrigatórios, mas em relação a Pranzo di Ferragosto, a oportunidade é esta quinta-feira, no nosso Cineclube.
LG
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