quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cinema Português 2: António da Cunha Telles

O "script" com que nasceu dizia que iria ser médico. Chegou a estudar para isso, mas o cinema falou mais alto e concluíu o curso do IDHEC - Institute des Hautes Etudes Cinematographiques em Paris, no ano de 1961.
Nas mesas do Café Vá-Vá, em Lisboa, foi mudado o rumo do cinema em Portugal, transformação a que deu corpo com outros jovens cineastas com estudos em Paris (Paulo Rocha) e Londres (Fernando Lopes). A estes se juntou António de Macedo, arquitecto camarário mas com vasta experiência no cinema publicitário, documental e experimental.
O mito diz que Cunha Telles produziu as primeiras longas-metragens dos três realizadores com a ajuda da herança de família. Verdade ou não, Os Verdes Anos de Paulo Rocha marca o início do chamado Cinema Novo Português, no ano de 1963, ao qual se junta em 1964 Belarmino, de Fernando Lopes, e Domingo à Tarde de António de Macedo em 1965.
Como realizador, O Cerco é a sua estreia na longa-metragem, em 1970, mas Cunha Telles sempre foi essencialmente um produtor, com numerosa obra e créditos firmados em Portugal e também em França.
Onze anos se passaram, desde 1993 até voltar a realizar. Em Tavira foi um sucesso, ou não estivesse o filme cheio de exteriores - e alguns interiores também - rodados pela cidade. Chama-se Kiss Me, e conta como em tempos politicamente conturbados, uma mulher sofrida e corajosa (Marisa Cruz) parte o coração de três homens: Manuel Wiborg, Rui Unas e Nicolau Breyner.
Homenagem "a alguns bons filmes e seus autores", é a última realização de Cunha Telles até agora. Para trás ficou outra passagem pelo Algarve, em Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia, documentário sobre a comunidade piscatória da Meia-Praia que, como cantava o Zeca, é ali mesmo ao pé de Lagos.
De resto, o seu cinema passa por Lisboa e pelos jovens de várias épocas, as suas vidas, dificuldades, alegrias, desilusões. Mesmo a obra colectiva As Armas e o Povo, em pleno 1º de Maio de 1974, o primeiro após a revolução, vai dos discursos de Cunhal e Soares até às expectativas dos jovens populares, combatentes, estudantes, de sorriso rasgado e cravo ao peito, há 35 anos atrás...
LG

Filmografia como realizador:
1962 - Os Transportes
1970 - O Cerco
1974 - Meus Amigos
1975 - As Armas e o Povo (colectivo, Trabalhadores da Actividade Cinematográfica)
1976 - Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia
1983 - Vidas
1993 - Pandora
2004 - Kiss Me

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