Caros leitores, esta entrada recorda e homenageia velhos conhecidos, velhos amigos não do cinema, mas de outros filmes, numa semana em que não fomos a Tavira. A vossa compreensão, pois.
Ao invés da habitual viagem rumo ao sul, a noite começou na Alameda D. Afonso Henriques, onde fica um ex-cinema entregue a uma organização sem mística cinéfila. O saudoso Império, emblemática sala da capital, já não tem cinema mas voltou a ter o espaço de convívio que caracterizou o lugar em décadas que já lá vão. Reaberto em 2006, o Café Império oferece refeições e convívio, lugar de estudo e espaço infantil, bem como actuações musicais e projecção de filmes até às 2 da manhã.
Mas não fomos ver nenhum filme, até porque o ecrã gigante oferecia futebol jogado no Estádio do Algarve, onde este fim-de-semana não fomos. O filme foi outro. Acompanhado de um Bife à Império, o filme foi um que não viamos há mais de 20 anos. Nessa altura, o cinema era acessível e volta e meia lá íamos, a salas de que só existe a memória, fosse o Quarteto, o Londres ou os Alfas triplex (que às tantas triplicou), só para citar os mais próximos, além do Império, claro. Também havia videoclubes que proliferavam pelos bairros, carregados de cassetes VHS, pois o DVD ainda era uma miragem e o Blu-Ray nem se imaginava sequer.
Só que o mundo não era menos azul. Nessa altura, há mais de 20 anos, o filme fazia-se diariamente a partir das 8 da manhã, no Arco do Cego, no Filipa de Lencastre. Era um filme cheio de filmes. Eram filmes de criadores em fermentação e de Arte, eram filmes de risos e conversas, de passeios, de diversão, de amores e desamores. Eram filmes de jovens.
No Império, onde já não há filmes, juntaram-se alguns actores dos filmes de há mais de 20 anos. Dos que não estiveram presentes, talvez não haja um actor que não tenha sido recordado. Eram actores de engenho. Se calhar poucos se lembram que este elenco elaborou propostas para um logotipo das comemorações dos 50 anos da Escola. E outro ainda, para o recém-criado Centro de Estudos Informáticos (imagine-se tal coisa). Eram trabalhos orientados, não por um realizador, mas por uma cineasta carinhosa e carinhosamente chamada de Tété, de quem todos gostavam, pois naquela sala passavam os melhores filmes.
Filmes como já não há, que isto de remakes é bastante complicado. E se nesta divagação for detectada uma pontinha de nostalgia, olhem para o fundo da memória de que Dali deixou a persistência surrealista. Realisticamente irão encontrar um relógio que não pára como fazia o de Dali, mas não custa nada rever um ou outro filme, e momentaneamente suspender o tic-tac.
E para aqueles que costumam passar pelo blog e não são destes filmes, tenham paciência desta vez. É que Shakespeare, que sabiamente escreveu que a vida é um palco, não conhecia filmes, que são sempre re-projectáveis.
Projecte-se pois, lá mais para a frente, mais um filme como o de 6ª feira passada, com mais actores e mais histórias para contar. Não precisa de ser no mês que vem, mas 20 anos é muito tempo.
LG
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