É porventura uma expressão - entre outras possíveis - que pode definir o que o cineclube tem para nos oferecer esta semana. Falamos do filme Ruínas, com razoável receita de exibição e premiado o ano passado em Lisboa no Festival Indie e também no Festival de Documentário de Marselha.
Manuel Mozos (de quem já vimos a ficção 4 Copas) dirige com a precisão de um relógio uma obra que, documental, vive também da justaposição de elementos para produção de sentidos, convocando-nos para olhar em direcções menos directas.
Se o mote do filme é a implosão das torres da península de Tróia e as imagens do cemitério do Prado do Repouso, é porque o realizador pretende convocar a morte. Morte por destruição, morte por ausência de quem desapareceu. Mas estes dois trechos têm a habilidade de nos fazer reparar em espaços que não estão destruídos, estão apenas esquecidos pelas pessoas.
Todavia, esses espaços continuam habitados por "fantasmas", vozes do passado, lembradas em passagens de textos que são lidas e que convocam a anterior habitabilidade dos edifícios agora vazios. É por isso que sentimos o sanatório das Penhas da Saúde, completamente abandonado, cheio de memórias e vozes que o habitam ainda, tal como acontece com o restaurante Panorâmico de Monsanto. Um e outro, exemplos entre muitos, acabam por invocar a memória do século XX português.
Em última análise, é do país que se trata. Um país que, como os edifícios, tende a uma dignidade silenciosa, envolto em memórias de outros tempos muitas vezes convocados, talvez demasiadas vezes. E sem que surja remédio. Diz o próprio Manuel Mozos: "Há um lado, que sinto que é um bocadinho o país, de grandes esperanças mas, ao mesmo tempo, de uma certa mesquinhez, uma coisa de remediado."
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