quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vieira, como Tarantino

As influências de obra para obra, podem por vezes originar mais do que um sucedâneo. Outras, mais não são que um exercício de cinema. Para tirar dúvidas, nada como vêr Arte. A nossa - a 7ª - e a nossa - a portuguesa -, com um abraço de co-produção ao país-irmão, dá de rompante novo filme de Leonel Vieira que, recordemos, andou há uns anos pela floresta amazónica para rodar A Selva, adaptado de Ferreira de Castro.
A influência é claramente - a imprensa é unânime - Quentin Tarantino. Dois bandidos de bairro que vivem de biscates ilícitos vão ter por missão o roubo de uma tela de, imagine-se, Van Gogh, cujo acto tem uma inesperada coincidência. Se formos audaciosos, etiquetamos este filme como road-movie, com vários ingredientes que caracterizam o género... Bom, à escala do cinema português. Mas a coragem e o esforço de Leonel Vieira são meritórios, pois encaixar o universo de Tarantino no espaço físico português não parece fácil.
Ao lado de Ivo Canelas - sem dúvida um actor em ascensão - está Enrique Arce, ambos de cinto "westerniano" e óculos escuros, aos tiros pelo Alentejo. Flora Martinez e a inevitável Soraia Chaves marcam a presença do sexo frágil (ou nem por isso, como em Tarantino). Confesso que a minha principal curiosidade está no desempenho de Nicolau Breyner que compõe um sinistro mordomo.
Uma palavra para a música. O madeirense Nuno Malo tem mão firme neste trabalho. Depois da banda sonora de Amália - O Filme, entrega-se á herança de Pulp Fiction e às suas notas de música surf, apimentada com um cheirinho a Ennio Morricone (mas só um cheirinho...) dos western spaghetti, cozinhando uma partitura surpreendente.
Esta semana, no seu Cine-Clube!
LG

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