sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Sombra do Caçador

Na saudosa sala recuperada pela Medeia Filmes há já mais de dez anos, o Ávila, tive oportunidade de ver alguns clássicos e obras-primas do cinema internacional, já que era a aposta de Paulo Branco para esse espaço. Foi muito bom enquanto durou. Afinal, não é todos os dias que se pode vêr, em Lisboa, obras de Sternberg, Lubitsch, Pasolini, Kubrick, Leone, para citar aqueles que me lembro de terem por lá passado.
Mas a esses nomes, é obrigatório acrescentar uma obra que muito recentemente revi. Um filme insólito, quase misterioso. Produzido em 1955, trata-se da única realização do gigante Charles Laughton, consagrado e multi-premiado actor inglês; actor em filmes como The Private Life of Henry VIII (1933), Mutiny on the Bounty (1935) e Spartacus (1960).
Laughton, querendo iniciar-se nas lides da realização, opta por um best-seller de Davis Grubb: The Night of the Hunter. Nunca esteve em causa a dedicação com que Laughton se entregou ao filme, mas o resultado foi uma catástrofe ao nível da crítica e de bilheteira. Felizmente - e não poderia ser de outra forma - esta obra-prima foi colocada pela História no lugar que lhe pertence por direito e mérito, como um dos grandes títulos dos anos '50.
A um anjo protector de crianças interpretado pela super-vedeta que veio do embrião do star-system americano, ainda os filmes não falavam - Lillian Gish, opõe-se em confronto um criminoso que procura o produto escondido de um roubo. Disfarçado de Pastor da Igreja e com as palavras LOVE e HATE tatuadas nos nós dos dedos, produz sermões sobre conflito entre o Bem e o Mal através de mímica que vai encantando todos quantos procura conquistar. Quase todos. Duas crianças são vítimas de uma perseguição-caça pelo falso pastor Robert Mitchum, representação diabólica do Ser Humano que, vivo o mal, nunca dorme - Does he never sleep? - pergunta o rapaz.
De fino recorte fotográfico de Stanley Cortez, de contínuo claro-escuro vincado, situa-se na fronteira entre o pesadelo e a fábula, entre o thriller e o film noir. Quanto a Robert Mitchum, é surpreendente e um dos grandes maus-da-fita do cinema americano - opinião minha.
A não perder na primeira oportunidade. Claro que está aqui uma sugestão e uma piscadela de olho ao André, só que ele provavelmente até já tentou programar o filme. Mas como tem que passar pela Atalanta Filmes...
Senhores editores, para quando o lançamento em Portugal em formato doméstico?!
Bom fim-de-semana e Bons Filmes!
LG

Sem comentários: